Minha vida tá pesada! já dizia ele perambulando pelas vielas mal iluminadas das terras de Dall Orto. As vistas estavam meio escuras e o trançar das pernas já dizia tudo. "A pinga consome o homem, assim como qualquer que seja o vício", dizia o velho sábio de olhar assustado, em ver o pobre do rapaz naquela situação deprimente.
Japonês, esse era seu apelido, era um velho conhecido no bairro. O cara adorava rock nacional e não dispensava uma boa breja gelada, isso sem falar do vinho, da vodka, do uísque e das inúmeras batidas. Ele sempre estava segurando uma latinha em sua mão, mas não era uma pessoa que vivia dando carão . Ele bebia socialmente até algo de muito estranho transformar a sua vida. Até hoje esse fato ninguém conseguiu comprovar, mas dizem que é o amor que fez ele cair literalmente dentro do tonel de pinga.
Após uma triste desilusão, o rapaz começou a beber feito louco, suplicando até a última gota de álcool, para energizar o seu sangue, 100% destilado.
A vida do Japonês anda pesada e o pior, ele se acha um cara sem horizonte, sem possibilidades na vida. Os amigos até que tentam reanimá-lo, mas a força da bebida é grande.
Diz o dito popular que pimenta nos olhos dos outros é refresco. Para o Japonês, cachaça na minha boca é refresco e sai ele comemorando com mais uma latinha em mãos...
A velha lenda geraldina sempre dizia que tudo na vida tem seu preço e que nenhuma pessoa merece se acabar desta maneira. A bebida mata e mutila o corpo. Beber socialmente é bom, mas beber pelo simples prazer de beber, não tem razão.
Na vida tudo é passageiro, mas o vicio tende a ser perpétuo. Controlar é um gesto de sabedoria, assim como o silêncio.
A paz tem que estar consigo e não em qualquer canto.
Japonês continua perambulando pela cidade, com a sua tradicional latinha em mãos. Só o futuro dirá o seu próprio futuro.
A vida continua e por mais que haja decepções, a vida tem que continuar. Amigos, amores e barzinho. Um triàngulo mais que perfeito, se tornando o mais puro de delicioso tri-pé do mundo. Se uma destas três pilares se trincar, com certeza - o mundo nunca mais será o mesmo...
Mastró Figueira de Athayde é cronista e degustador de vinho Tabajara