Meu Amazonas, hoje deveria ser um dia de alegria, há 148 anos, deixamos de ser capitania para sermos província.
Olhando em volta, teu rio continua sendo o Maior do mundo em Volume d´água. Em sua passagem dois encontros de água. O do Solimões (nome que recebe desde que entra no Brasil até o encontro das águas com o Rio Negro) e o do Tapajós, rio de águas esverdeadas, esmeraldinas, na cidade de Santarém. Em tuas margens terras caídas de tanto banzeiro, provocado pelos grandes navios que te cruzam.
62 municípios. O maior Estado da Federação. Quanta cobiça ao património que Deus te legou. Dos mais diferentes minérios, Ã s mais elevadas árvores, montanhas, a uma biodiversidade que só a Mão Divina seria capaz de dar ao lugar considerado "Fim do Mundo".
Será que acham pouco o que nós teus filhos passamos?
Isolados, com duas saídas apenas, o aéreo e o marítimo e com muitos dias de viagens, horas de vóo. Dizem que já chegamos ao caribe por estrada e a Humaitá-Lábrea que nos ligaria ao resto do Brasil, parece atolou-se num lamaçal.
Manaus a Capital vive sempre em baixo-astral. Mística como é, seu inferno é cinzento apesar das tentativas de colori-lo com o róseo cor ideal das moças bonitas.
Mas, como dizia minha avó: Manaus parece moça bonita. Por cima cambraia gaza, por baixo molambo só.
Agora só se fala em elevados, viadutos. Cavaram buracos em toda a cidade, mas basta uma chuva de verão e o mundo vem abaixo. Alaga tudo, serviços executados somem com as águas e nós manauaras passamos novamente a viver a opressão que se inicia com o trànsito, os engarrafamentos faraónicos que vão da passarela da Djalma batista ao Colégio Militar, imaginem em hora de "ruche". Só falta o trem bala já propalado e que parece foi esquecido, deve voltar no próximo round. Sinceramente.
Manaus, 19.09.1998.
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Nota da autora- Programa eminentemente romàntico e crítico por natureza. Na visão poética nada pode ser encoberto, nem fantasiado.
Estamos em 2010, Manaus, está totalmente mudada, são incontáveis viadutos, que tentam acelerar o trãnsito com uma ordem de comando. Matem-se as pessoas e deixem os carros correrem. Tiraram as passarelas, mudaram as paradas de ónibus e retiraram os sinais, um genocídio em plena Manaus, que parece não ter Prefeito, nem Governo.
Os engenheiros de tráfego devem ser de outro planeta. Pela manhã ouve-se pelo rádio o número de pessoas mortas no trànsito, segundo estatística morre dez pessoas diariamente no trànsito. E logo com a copa 2014, o trem bala ressuscita, nem que seja pra enganar eleitores.
Crianças, jovens, velhos condenados à morte ou à mutilação eterna. Deus salve a todos nós, não merecemos uma morte cruel por culpa da desorganização administrativa. Manaus, 31 de janeiro de 2010. Ana Zélia