Navios em pleno rio.
Observação direta do que vem acontecendo com a Amazónia. Levas e mais levas de madeira, transportadas em toros nas balsas, jangadas enormes descendo os rios sem rumo, vítimas das motosserras.
Navios em pleno rio.
É o retrato do que vimos.
Onda passas não deixas rastros.
Ninguém diz: Ele passou aqui!
Não esquentas lugar, tua fumaça se expande no ar como as lembranças que morrem.
Não tens cérebro? És cego? Dentro em ti há mortos-vivos de amor, esperanças, sonhos.
Alguns buscam a "Terra prometida", o "manjar dos Deuses", outros, um pouco de paz, a fuga dos problemas rotineiros.
Há sonhos nascendo, sonhos morrendo.
Navegas em águas vivas, estradas que comandam a vida, apesar de se ouvir: "Água não tem cabelo!"
É oco como o coração de alguns; ou repleto de mistérios como os símbolos sagrados.
Os anjos dormem. Os "monstros" parecem algemados em seus reinados.
E a riqueza segue em silêncio; deixando apenas troncos, esqueletos que apodrecem ao sabor do tempo, a floresta desce em forma de "cone" invertido nas jangadas, é o "Made in Brazil".
Breve será passado.
Nem matas, nem rios, quem sabe um deserto a céu aberto.
02.04.1999
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Nota da autora- Viajando entre Belém/Manaus, nos catamarãs da extinta e falida "ENASA", fotografava e escrevia sobre o absurdo de ver nossas florestas destruídas e subindo ou descendo o Rio Amazonas, sem o controle das autoridades que dormem nas cidades, nos palácios, castelos e nossa Amazónia saqueada a olho nu. Espero que hoje esteja melhor, mas não creio. Manaus, 28.maio de 2010. Ana Zélia
Sem matas,