FUTILIDADE E FRIEZA
Roberto Corrêa
A vida não deixa de constituir-se em mais um mistério da natureza humana. Ninguém sabe exatamente porque apareceu no mundo, porque vive e qual o destino que o aguarda. Esse problema, de alta indagação para os estudos filosóficos, deve ser solucionado por todo e qualquer homem, desde o mais intelectual ao mais simples. Nós ,em nossa simplicidade humana e graças ao Criador de todas as coisas, fomos esclarecidos desde a infància: somos filhos de Deus, viventes no planeta terra e, vulneráveis pela morte, renasceremos em outra vida que não terá fim. De posse dessa verdade - da qual só da vida eterna não temos conhecimento experimental -, gostaríamos de conhecê-la em toda profundidade e não bancar o avestruz escondendo a cabeça para fugir dos perigos e dificuldades .
Mas, que faz o homem ? Nada sabendo sobre a vida futura, temendo-a, procura desconhecê-la na santa ignorància do avestruz. Então, enche a vida de futilidades ( na correta ótica de quem considera secundária a existência terrena), cuidando de ter boa saúde, prolongando a vida ao máximo, com lazeres múltiplos (esportes , gastronomia, turismo, prazeres sexuais etc.) e até engendrou forma mais rápida de se livrar do defunto (para esquecer de uma vez a existência eterna e, não deixando de ser utilitarista , arrumou jeito de aproveitar os órgãos do cadáver para melhorar ou prolongar a vida ). Assim, cuida-se exclusivamente da vida presente, porque é a que se vê e a que se sente e a futura, não sendo cientificamente comprovada será uma questão de fé de cada um. Então, pergunta-se: a vida futura existirá apenas para aqueles que têm fé? Se o indivíduo não acredita na vida futura ela não existirá para ele ? Observe-se o absurdo desse último raciocínio: basta a gente não crer para as coisas não existirem. Esse procedimento irracional , evidentemente, não é cristão porque, segundo os ensinamentos evangélicos, a vida humana deve direcionar-se para a eternidade : que adianta o homem ganhar o mundo inteiro , se perder a sua alma ?
Portanto, a frieza que encontramos em relação as coisas divinas é imensa. Onde está o fervor nas orações, a devota recepção aos sacramentos, as pregações que entusiasmam e estimulam a prática das virtudes ? Onde a vivência inclinada para as coisas divinas? Onde a predominància da sacralidade, onde os ambientes que nos façam esquecer os problemas da terra para cogitar também da felicidade futura ? Por quê tanta divergência e dificuldade de entrosamento entre aqueles que praticam a mesma fé ?
Simplesmente porque tais assuntos não são fúteis. No reino da futilidade predomina o noticiário e conhecimento de todas as tragédias, acidentes, escàndalos (biografias de pessoas famosas etc. ), acontecimentos esportivos múltiplos e quando o tema é complicado, o é para valer (caso Pinochet ) , onde se expõem os rancores, a parcialidade a falta de perdão. Fiquei muito satisfeito de encontrar na encíclica Fides et Ratio de João Paulo II, logo no início - pg. 17 da edição Paulus -, referência ao mistério da vida, pelo Sumo Pontífice, "in verbis" : "Na realidade, o mistério do homem só no mistério do Verbo encarnado se esclarece verdadeiramente.", afirma a constituição Gaudium et spes. Fora desta perspectiva o mistério da existência pessoal permanece um enigma insolúvel."
