Quis escrever um romance com pelo menos 56 páginas, abaixo disso, teria um livreto e ela queria um livro. Escreveria uma página por dia, não mais que isso! Só isso bastava e, se publicasse, por certo realizaria seu sonho e os sonhos do pai.
O pai, um poeta e incentivador das artes, dissera:"Já tens asas para voar! Nesse frescor da idade, a alma voa tanto! Entre alegrias e prantos, voa; simplesmente voa sem temer limites ou horizontes.Toma tua caneta e papel e descreve o voo da águia ou de uma gaivota..."
Lutava contra o pensamento: ainda não é a hora da estrela! Não arriscaria apresentar os originais de seu livro a alguma editora. Tinha muitos escritos guardados, mas não lhe pareciam coisas de botar em livros. Eram sonhos, apenas sonhos... Imaginava-se sozinha numa ilha, procurando por uma gruta, uma cachoeira de águas cristalinas, quem sabe, encontrar o morador mais antigo da ilha. "E se não houvesse água potável? Beberia numregato louro?"
Há sempre água potável numa ilha perdida... E, apagava a ideia de encontrar um náufrago, queria uma ilha que ninguém jamais houvesse habitado, nem mesmo os fenícios.Navegaria em águas profundas, afastando-se da costa do Senegal — outra vez seu pensamento a interrompia — tinha medo de avião... Viajaria, pois, de navio, deixava seus cabelos esvoaçarem na proa e os olhos se encantarem com o sol que se põe atrás das asas de uma gaivota! E se o navio naufragasse, então, poderia descobrir uma ilha deserta. Quando faria isso, ainda não sabia...
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