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Cronicas-->Meu primeiro carro? -- 25/10/2010 - 10:32 (AROLDO A MEDEIROS) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Meu primeiro carro?

Aroldo Arão de Medeiros

Eduardo é o terceiro de oito filhos. Os pais - Lauro e Maria Luiza - não mediram esforços no afã de dar a melhor educação aos filhos, embora algumas vezes tenham sido severos a ponto de lhes aplicarem umas palmadas. Mas nenhum dos filhos se queixa das surras. Ao contrário, são unànimes em elogiar a educação que receberam. Apenas uma reclamação, dos filhos homens: o pai não os deixava fazer serviços braçais e, assim, não aprenderam pequenas tarefas que, hoje, já adultos, serviriam para quebrar o galho dentro de casa.
Eduardo recebeu todo o incentivo para estudar. A mãe, mesmo não tendo o primeiro grau completo, era quem cobrava os deveres da escola e os ajudava, ensinando o que sabia e enrolando no que não sabia. O pai era o provedor: não deixava faltar um lápis, um caderno, e tudo que os filhos necessitassem para seguir o caminho correto dos estudos e não se perderem na vida.
Eduardo, em agradecimento ao esforço dos pais, dedicou-se com afinco aos estudos: graduou-se em curso superior. E depois de três meses de trabalho, havia juntado quantia suficiente para comprar um pequeno carro, que ele deu de presente ao pai. Uma das irmãs declarou, à época, que ele era um palerma, que deveria ficar com o carro. Mas Eduardo afirmou a vida toda que faria tudo de novo e que seu pai merecia até mais.
Eduardo aprendera com o pai que ajudar os filhos dignifica o ser e faz bem ao coração. E sempre se pautou por este lema quando ajudou os próprios filhos. Teve a felicidade de poder dar a cada um deles um automóvel quando completaram dezoito anos. Não foi carro novo, como fizera com o pai. Afinal, agora estava casado e tinha a tarefa de sustentar a família: esposa e três filhos homens.
Eduardo já tem uma neta, a qual ama como a filha que não teve. Todo mês lhe dava um presente. Mas certo dia concluiu que deveria mudar as regras. Não deveria mais ter aquele compromisso. E falou para a neta, já então uma garotinha de dez anos de idade:
- Malu, de hoje em diante não vou te dar um presente todo mês, porque tudo o que me pedes, eu te dou, não é?
- Está bom, vó Duda. Então vou fazer meu primeiro pedido: me dá um carro!
Eduardo respondeu, em tom amistoso:
- Legal. Vou te dar um carro. Espere.
Eduardo sempre gostou de comprar seus veículos através de consórcio, com o firme propósito de ter um carro novo a cada cinco anos, que é o tempo máximo até ser contemplado. Quando se aposentou, recebeu uma boa bolada de indenização e resolveu investir num veículo maior, adquiriu à vista uma camioneta, desfazendo-se de seu pequeno carro com três anos de uso. Para sua sorte, ou azar, uma semana depois da conversa com a neta foi contemplado no consórcio, do qual já estava quase esquecido. Para não perder o investimento, aceitou o carro com a intenção de circular com o veículo pequeno dentro da cidade, utilizando a camioneta mais para viagens.
A neta quando soube que o avó estava de carro novo não perdeu tempo, contou para as amiguinhas o acontecido:
- Meu vó Duda é tão bom que não passou nem uma semana e já entregou meu presente: o carro.
As amiguinhas riram dela. Malu, séria, garantiu:
- É verdade.
- Mas tu nem podes dirigir?
- Ele vai ser o meu motorista. Vai me levar para todo lugar que eu quiser. Quando eu completar dezoito anos, tiro a carteira de motorista e então eu vou ser a motorista dele, para retribuir tudo o que tem feito para mim.
As coleguinhas, então, acreditaram. E Malu também estava convencida.
Eduardo sentiu os olhos marejarem quando soube da conversa da neta na escola. E divagou, sozinho, o pensamento voando longe:
- Ela ainda não sabe que o mundo dá tantas voltas quanto as rodas do carro. Tudo pode acontecer...
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