A Véia do Fogo viajava a pé de uma cidade a outra, com um pano amarrado na cabeça, em forma de manto, e vestia roupas que iam do pescoço ao tornozelo. Muito limpa e cheirosa, não tinha cheiro de perfume de frasco, mas apenas e simplesmente de limpeza, de sabão de oiticica ou coco com o qual ela mesma lavava suas roupas. Morreu na década de oitenta, com aproximadamente 104 anos. Não se sabe com certeza se morreu. Saiu um comentário que a onça havia comido a velha. Comer o quê? O corpo, supostamente dela, estava intacto; nem fera, nem abutre ousou banquetear-se, nem mesmo os vermes.
Foi encontrado um corpo, só o couro e o osso, debaixo de uma árvore entre Picos e Ipiranga, no Piauí. Provavelmente da "Velha do Fogo", porque há muito tempo não carregava o peso de carne nas costas. Transportava sobre suas pernas cambotas apenas uma pele escura que lhe cobria a carcaça descarnada. Não havia carne para dar aos vermes; portanto, não existia cadáver, uma vez que este significa carne dada aos vermes.
A velha sabia reza braba. Cobra e nenhum outro animal poderia atingi-la. Morreu de fome ou sede, das duas coisas juntas ou nenhuma delas. Morreu com peso da idade. Se é que morreu, ou ainda continua pingando fogo por aí afora.