A Velha, apelidada de Rota, estava em oração. Um transeunte, curioso com a cena incomum, resolvera perturbar o momento de intimidade com Deus daquela criatura tão desprezada pelos homens, mas decerto amada pelo seu Deus, tanto quanto outros pecadores que se vestem de linho fino e seda, mas por dentro, sepulcros pútridos.
- Tá rezando ou xingando a Deus, Véia Rota?
- Ó meu Deus! - disse a velha em voz alta - Tanto palavrão que eu sabia e agora não me lembro de nem um!
- Tá xingando a Deus, Véia Rota? - insiste o transeunte.
- Rota é a buceta da puta que te pariu, fii duma égua.
Aquela alma sofrida, um dia, foi chamada à presença do Criador. Sem medo, apresentou-se como era - despida de maldades e sem nada nas mãos.