ESCARVANDO A MEMÓRIA DO MENINO
Um certo dia, João e Maria
Saíram cedo pelos caminhos
Maria em busca de borboletas
João à procura de passarinhos
Das muitas poesias estampadas nas cartilhas didáticas infantis, a história das duas crianças que se perderam na floresta, os irmãos João e Maria, foi a primeira que recordo ter lido nos bancos escolares. Ocorreu já próximo ao final do ano de 1962, quando tinha já completados meus seis anos de idade e estudava, na companhia dos meus dois irmãos mais velhos, na escola mantida pela Associação Cultural e Beneficente 19 de Março. Contudo, não tenho certeza absoluta de ter sido mesmo a primeira das poesias, pois posso ter lido alguma outra nas duas primeiras cartilhas que naquele mesmo ano nos vieram à s mãos antes da Cartilha Maravilhosa. Certeza tenho apenas que as outras cartilhas - Cartilha do Povo e Brincar de Ler¬ - me trouxeram as primeiras noções para o aprendizado das sílabas e palavras, sendo-me impossível guardar para ainda hoje qualquer dos seus textos. Mais facilmente trago as imagens do ABC dos Animais e da Cartilha do ABC, que me trouxeram, no ano anterior, na escola organizada na sala da casa do senhor Antonio Neves, o aprendizado de cada letra a ser utilizada depois nas sílabas e palavras.
Naqueles dias as crianças não chamavam as professoras de tias. Chamávamos dona, fosse a mestra solteira ou casada, jovem ou idosa. Dona Angelita foi a primeira professora que tive. Filha do casal Antonio Neves e dona Aldina, lecionava na própria casa e recordo que tinha uma outra professora auxiliar, de nome Angélica. Esta outra era irmã de dois garotos mais velhos que nós - Edmundo e Nélson - que também estudavam conosco e que moravam na rua Eça de Queiroz.
Não trago na memória todos os versos de João e Maria. Além da estrofe citada, alguns versos soltos também ficaram-me gravados, nada ajudando citá-los aqui. Certo é que das muitas histórias apresentadas na Cartilha Maravilhosa, apenas essa vinha na forma de poesia. Todas as outras - Chapeuzinho Vermelho, A Gata Borralheira, Branca de Neve, A Bela Adormecida, O Gato de Botas, O Pequeno Polegar,( lembro somente destas) eram narradas em prosa.
Depois de João e Maria, as próximas poesias que recordo dos livros do ensino primário são alguns versos desordenados de um soneto de Natal inserido no livro Nossa Terra, da primeira série...
"Meia Noite. Uma luz se avizinha...
E dos astros segue o fulgor...
O menino na lapinha..."
e a poesia Bão Balalão, presente no livro Nordeste, de leitura e gramática, da segunda série, que deixo aos olhos dos adultos.
Bão balalão,
Senhor Capitão,
Tirai este peso
Do meu coração.
Não é de tristeza,
Não é de aflição
É só de esperança
A aérea esperança
A aérea, pois não
Peso mais pesado
Não existe não
Ah, livrai-me dele
Senhor Capitão
Joaquim Furtado
Abril de 2001
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