O doutor José Geraldo era chamado de Zé Negrinho por seus irmãos, de Zepinho por minha avó e de Charutinho por nós e nossos amigos. Charutinho veio dos suerdicks que o acompanharam durante boa parte da vida, no final da qual passou a ser Lolo. Por acaso, na verdade este é o masculino que inventamos para Lala, apelido que os netos deram à minha mãe. Embora os nomes variassem, ele permanecia sempre o mesmo.
Gostava de andar bem arrumado. Antigamente vestia-se de terno claro, com as calças presas por suspensórios e saía à rua de chapéu. Depois foi se modernizando, deixou o chapéu e os suspensórios de lado, mas os ternos eram sempre bem cortados e as gravatas discretas. Só demorou foi para usar bermudas... Achava muito feio andar de sapatos sem meias, mesmo no litoral.
Depois do cafezinho após o almoço, abria a caixa de charutos, pegava o cortador e o ato de tirar a ponta do havana médio e acendê-lo era um ritual. O perfume espalhava-se pela sala. Nessas horas muita gente torcia o nariz, principalmente as senhoras. Eu não. Até hoje, ao sentir este cheiro, lembro-me dele. Meu avó materno também apreciava os charutos e eles trocavam idéias a respeito, presenteavam-se com caixas desta ou daquela marca. Os melhores eram os cubanos, mas os da Bahia não ficavam atrás. Neste ponto eles concordavam, mas em outros não. Quando vovó sugeria que se fizesse alguma melhoria na casa, por exemplo, e se prontificava a arcar com os gastos, Zé Geraldo tirava logo o corpo. Prezava sua independência, não queria dever nada ao sogro.