Preciso decifrar meus códigos. Ainda há tempo de saber mais sobre de mim. Falta-me a coragem, de descobrir a verdade que me foi escondida. Talvez eu mesma tenha enterrado embaixo de alguma pedra no jardim de casa, ou no topo da mais alta montanha para que nunca fosse encontrada. Minha verdade escondida em algum porão do passado. Nas gavetas do armário, esquecidas pelo tempo. Assim como eu, esquecida pelo tempo.
As lembranças me trazem recordações de um passado distante. Não distante do tempo cronologicamente falando. Distante no sentido de insuportavelmente longe da minha vida, da realidade em que vivo agora, da minha impossibilidade de aproximação, de toque, de contato físico com alguma coisa que me fizesse lembrar de quem eu sou, do que eu quis ser um dia. Talvez alguém me desse alguma informação desse meu passado, talvez alguém ainda se lembre de alguma coisa ou de mim. E me ofereça alguma pista, na qual eu me reconheça.
Quem sabe os amigos antigos, me digam a verdade. O que eu queria da vida, o que eu sonhava. Os amigos, os verdadeiros, geralmente não se esquecem da gente. Vale a pena investigar. Quem sabe eu encontre a minha melhor parte, esquecida em algum lugar.
A vida te leva como o vento leva um aviãozinho de papel. Sem rumo, sem nada, pra lá e pra cá. De repente você cai no chão. Ou um vento forte te sacode e te leva pro céu de novo. O importante é voar sem depender do vento. Ficar a esmo da sua vontade. Isso não é liberdade.
Prefiro escolher meus próprios caminhos, mesmo que não consiga chegar no final. Se me perder na estrada, continuarei andando, pois com certeza chegarei em algum lugar.Quem não observa o caminho perde o melhor da viagem. Muitas vezes o maior prazer está justamente em organizar a festa do que o evento em si.
Deixei-me levar pelo vento. Viajei muito, fui longe...Fui pra bem longe de mim. E é por isso que hoje procuro a mulher que existe aqui dentro. Seja no passado ou no presente, não importa, preciso mesmo é abrir essa porta e sair daqui. Preciso da chave escondida, perdida em algum lugar. Irresponsavelmente perdida.
Hoje, não reconheço-me no espelho. Minha imagem vazia, sem graça, não mais sorri. Fico andando de um lado pra outro, olhando o tempo e a minha vida passar. O tempo passa bem rápido, e isso me angustia ainda mais. Sei que preciso fazer alguma coisa a respeito, mas do espelho eu não consigo sair.
Preciso encontrar meus pedaços. Encaixar cada um. Mesmo que depois eu jogue todos pro alto de novo. Só queria achar o fio da meada, do novelo. Quero tecer meu presente, minha vida de agora. Quero inventar uma mulher que seja bem corajosa. Que se banque na vida, que não fique escondida. Que saia do espelho pra vida lá fora.
Essa alma feminina, de nada quieta ela tem. Uma alma conflitante, que não sabe o que quer. Passa a vida procurando um sentido para a vida, que se modifica o tempo inteiro. Quer sair do espelho, quer sair do emprego, quer sair de um relacionamento. Quer ter filhos, quer um companheiro, quer um casamento. Quer mudar tudo outra vez, porque não satisfeita ela rejeita aquilo lhe faz sofrer, aquilo que não quer mais.
Ela só quer ser feliz, assim como eu, como você. Que procuramos os códigos perdidos, a chave da porta, os caminhos que nos levam para uma vida melhor, de satisfação e prazer. È preciso sentir-se completa, com todos os seus pedaços. É preciso sentir-se repleta de muitos sonhos realizados.
