Estou prezo e enclausurado dentro de uma jaula, cercado de urso, que transpiram feitos porcos, deixando um inescrupuloso rastro de putrificação. Não sei quanto tempo vou aguentar, o que me resta ao menos, é relembrar os velhos tempos e aguardar por dias melhores ao lado das minhas amadas.
Como era bom o tempo de selva onde podíamos andar tranquilamente pelas trilhas e riachos, em busca do mais que delicioso mel ou pescar o genuíno salmão, que vive nas águas gélidas do norte da América.
Como era bom respirar o ar puro que vinha das Montanhas Rochosas. O ar invadia o meu pulmão e como um força descomunal, proporcionava mais pique e motivação para o mais terrível e deliciosos dos desafios que existe: viver.
Neste ponto até que vivia bem. Comida e água tinha aos montes. Fartura esta que me fazia até passar mal, tamanha a minha gulodice. Tinha ao meu lado duas verdadeiras companheiras que cooperavam e acima de tudo, compreendiam toda a nossa luta, transformando a nossa jornada mais agradável.
Como era bom olhar ao lado e vê-la super linda desenvolvendo o seu trabalho. Como era bom o chamego e o carinho que elas proporcionavam, um carinho que chegava à ser de irmão para irmão. O cheiro era maravilhoso e não consigo unir todos os adjetivos que demonstrem tal maestria. A vida era boa e eu não dava o seu devido valor.
Hoje estamos separados, distanciados pela saudade, mas felizes por saber que todos estão bem. Elas, as minhas princesas continuam desfilando e proliferando os seus mais deliciosos odores e sabores aos novos amores que virtualmente surgirão. Eu estou aqui, trancado nesta pequena jaula, com uma pequena fresta, por onde passa alguns raios solares, afim de decepar um pouco o forte odor que exala. Estou preso em uma jaula com mais dois ursos. Olho ao lado e choro feito uma criança. Ao lado, vejo um urso seboso, digno de ser o ator principal das Tartarugas Ninjas, tamanha a semelhança com os mutantes loucos por pizzas. Realmente não sei o que fazer, ou melhor, sei sim: Ou quebro a jaula e fujo, ou espero por dias melhores, se é que existe este dia, haja vista a enorme nuvem negra que persiste ficar em cima de mim, ou melhor, em cima da jaula.
Mastró Figueira de Athayde é cronista e adestrador de leões