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Cronicas-->Declaração de Amor -- 05/02/2001 - 23:39 (Carlos Delphim Nogueira da Gama Neto.) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Velho Sertanejo, Amigo Raimundo


Companheiro de longas conversas, às quartas e aos domingos, lá onde se esconde do mundo; o asilo.
Aquele olhar triste e perdido no tempo, se alegra quando nos vemos. A expressão de desconsolo e aquela pergunta característica logo após o soar da sineta anunciando o fim do horário de visitas: "já?". A mãozinha me acena de longe, quando me vou.
Vivido, sábio, experiente e louco para partir daqui, depois desses quase noventa anos de caminhada dura e fatigante. Diz ele ter perdido o alento, depois que o derrame atrofiou-lhe, parcialmente, as funções locomotoras.
A morte da mulher e, seis anos depois, da filha; levaram-no à universidade como forma de ocupar a mente, espantar a tristeza e realizar o velho sonho de ser advogado. Esse guerreiro chegou de Pernambuco, aqui em Santos, com mais de trinta anos de idade. Começou no cabo da picareta, concluiu o curso primário e aos sessenta e oito anos recebeu o diploma de Bacharel em Ciências Jurídicas.
Nos afeiçoamos de tal maneira que, um dia desses, um outro interno - um simpático potiguar que lá vai pelos setenta e cinco, lúcido e ainda trabalhando - me pergunta se seu Raimundo era meu pai.
Os livros que lhe restaram, veio aos poucos me presenteando. Todos os quatro!
Ontem, quando fui visitá-lo, fez absoluta questão, de presentear-me com uma embalagem de pastilhas de hortelã. Todos os domingos, alguém lhe leva essas pastilhas e ele as consome com satisfação. Porém, talvez para forçar-me a aceitar o presente que eu recusava, disse não gostar daqueles doces.
Ele tem uma percepção muito desenvolvida. E queiram vocês assim; digamos que pode ser coincidência. Mas hoje, durante longas horas de espera e também durante a viagem, meus companheiros foram um pacotinho de balas de hortelã e o último livro com o qual me presenteou: "14 Lições de Filosofia Yogue".
Dias há, em que não nos calamos, um minuto sequer. Outros, porém, há, também, em que o silêncio total nos domina. E ali ficamos, imersos no turbilhão silencioso, intercambiando energias.
Falava de vós! Mas, o dia foi longo, vou repousar, meu amigo Raimundo. Irmão mais velho, companheiro de caminhada e professor. Que os sonhos suaves sejam vossos companheiros noturnos.
Boa noite !


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