Sempre pensei que dona Lourdes, baiana que residia no Rio de Janeiro, fosse exímia cozinheira. Quantas moquecas, feijoadas e vatapás não comi em sua casa! Aos domingos ela costumava receber muita gente para o almoço e o que se apresentava era um verdadeiro banquete.
Certa vez, quando elogiei seus pratos, ela me confessou que na prática não sabia fazer quase nada. Só comandava a empregada. Sua única especialidade era a maionese. E assim mesmo, houve um dia que aconteceu um desastre.
"Foi uma coisa terrível, ela contou. Fumando, comecei a picar as batatas. Misturei os ingredientes, sempre fumando. Você sabe que eu fumo mesmo, né? Bati os ovos com o cigarro na mão. Quando estava por terminar, não consegui alcançar o cinzeiro e a cinza caiu dentro do prato. Tentei tirá-la, mas não deu certo. Quanto mais eu tentava, mais ela afundava. Não houve jeito. Por fim, achei melhor mexer bem e fazer de conta que não tinha acontecido nada. Mas fiquei apavorada, e se tivesse alterado o gosto?... Nem tive coragem de experimentar.
Na hora do almoço, gelei quando vi a cara do meu marido após a primeira garfada. Ele é muito exigente e vive implicando com tudo. Fiquei só olhado com o rabo dos olhos. Na segunda garfada ele demorou-se com a maionese na boca. Depois engoliu e perguntou solenemente: QUEM fez essa maionese?
Fingi que não ouvi e fiquei pensando, será que ele desconfiou? E não é que esse homem continuava a comer pouquinho por pouquinho e a cada garfada olhava para todos? Até que alguém se impacientou e quis saber o motivo de tanta enrolação. Afinal, o que é que há, papai? Ele então respondeu: Nada, não, é que a maionese está tão boa... NUNCA se fez uma igual nesta casa!
Pois é, minha filha. Agora, quando dou a receita da minha maionese, acrescento sempre uma pitadinha de Continental sem filtro. É aí que está o tchan, não se esqueça! "