Estou, há tempo, querendo escrever alguma coisa sob esse título. Acho lindíssima a expressão e me parece que já é existente sob a forma de filme , livro ou cedê. Sempre lastimei não ser aquela enciclopédia ambulante onde tudo e todas as coisas se encontram com facilidade. Se a expressão não é minha, aproprio-me dela o tempo suficiente para escrever esta crónica. E o faço, talvez ainda, em momento inoportuno porque perco o pequeno espaço que disponho (que todavia acho excelente para não cansar e não enfadar ) em outras considerações, diversas daquela visão poética do título.
Mas, de qualquer forma, serve de intróito. Imaginem que nos defrontamos num mundo impiedoso, cuja melhor visão, ao que parece, encerra uma disputa, uma emulação. O trànsito, por exemplo, é bárbaro e nele se verifica que ocorrem várias disputas: a da potência do carro, a do seu tamanho, a da conservação, a da habilidade do motorista, a da cortesia, a da impaciência e assim por diante. Tudo isso, num momento de fuga e inspiração, nos leva à curva de um rio em interior tranquilo, onde o chefe de uma taba vai pescar o saudável alimento para sustento próprio e da família. Lá está ele feliz, contemplando a natureza esplêndida que tem diante de si. Ali , na sinuosidade da curva, enxerga, até o distante horizonte, o rio que desliza suave e ao fazer aquele contorno , se alarga perdidamente, deixando a impressão de ser um lago, onde árvores e coqueiros sombreiam e refrescam Ao longe, montanhas em semi círculo.
Todos os dias, nessa época de calor diurno e frio noturno lá vai o nosso personagem, Ã s vezes só, Ã s vezes com um filho pequeno, cumprir a sua tarefa de pescador. E , na curva do rio, admirado e embevecido com a maravilhosa paisagem, dá graças ao Criador por viver assim tão feliz. Têm outros afazeres e ocupações para preencher o tempo e sustentar a família , porém, a que mais o encanta é passar aquelas horas , silenciosas e plácidas, na curva daquele rio. Conheceu a vida da cidade grande e jamais compreendeu o corre-corre lá existente. Jamais entendeu também porque todos querem se juntar em urbes descomunais onde tudo é distante e onde sequer se pode contemplar as belezas da natureza.
Então, continua a agradecer a Deus pela felicidade que usufrue, pois, como em pesadelo, passa pela sua mente os sofrimentos dos seus irmãos que vivem na cidade grande. Indaga a si próprio: será que não descobrirão que não faz sentido viver amontoados sem sequer poder admirar as belezas da natureza ou mesmo cultivar a terra ? Sem manter conversações com os companheiros da vida ? E que dizer daquele terrível aparelhinho que mostra uma coisa boa e centenas de notícias más ou sofridas ? Será que ele é assim tão dominador e obriga os homens, inexoravelmente, a seguir suas proclamações ? Quando esse selvagem bicho eletrónico será subjugado e domesticado ?
Enquanto esse instrumento - que mais perverte do que instrui- não for colocado nos devidos eixos, há de se invejar quem - vez ou outra ou definitivamente -, tenha o condão de se deslocar para um tranquilo local, onde talvez - no auge da ventura - venha a se deparar com os indescritíveis encantos da natureza: silêncio, árvores, pássaros, talvez um rio piscoso com insinuante curva.
