Se eu tivesse muito cabelo, hoje teria motivos para ir ao shopping; compraria um pente.
Não vejo desvantagem em ser careca. A propósito, há vantagem nisso.
Alem do fato de ser "dos carecas que elas gostam mais" - não sei de onde veio essa fantasia -, penso no proveito que tiro poupando-me das idas ao cabeleireiro, além do que nem sempre é fácil, no meio do caminho, encontrar um cabeleireiro ou uma cabeleireira à disposição, e, o mais, com as características ideais: de preferência que seja mulher; se for homem, não deve ser barrigudo e não exercer o ofício falando de futebol ou assobiando canções detestáveis e sem fim.
Nada contra os gays. Todavia, não confio minhas orelhas a um cabeleireiro saltitante.
Ah! as meninas. Seriam criaturas adoráveis não fosse o falatório e o tom de voz muita vez irritante, quando não resolvem relatar o ultimo desentendimento que tiveram com a sogra e as outras rivais. Lembro de certa ocasião em que aprendi uma receita para afastar mau-olhado. Sobretudo, não deve sofrer de rinite crónica - detesto fungado que não seja numa hora apropriada - nem de labirintite. Essas necessitam apoiar-se com uma das mãos no topo da cabeça do cliente, enquanto com outra, cortam o cabelo. Sinto-me um equilibrista de circo tentando equilibrar-se equilibrando na cabeça uma cabeleireira desequilibrada. Não deve ter o hábito de coçar o nariz de vez em quando, nem deixar para trocar o absorvente no meio do corte, fico imaginando se lavou as mãos.
À parte o pó e os fios de cabelos suspensos no ar, agitados por um ventilador barulhento, tornando, por essas e outras, a atmosfera insuportável, tudo, ou quase tudo, me é detestável num salão de cabeleireiro.
Deste modo, pensei, prefiro ir ao shopping comprar um pente. Hoje acordei e pude ver dois deles, dos três que inda restam, desalinhados.