Sei que o que vou contar parece mentira, e pode ser que seja. Minha carteira, aquelas de bolso, anda. Ela nunca está onde eu a deixo. Já a perdi quinhentas vezes. Lógico que o número de vezes em que a perdi está exagerado, mas também eu não vou ficar contando quantas vezes ela me abandonou. De dentro da bolsa, daquelas que já foi chamada 007, ela pulou para fora, para a liberdade, algumas vezes. Teve um dia que ela fugiu e raptou a bolsa.
Toda vez que ela sumia eu falava com minha mãe para rezar o responso. Ela o fazia e a carteira aparecia. Não adianta ir no Aurélio ler o que é responso, porque não será igual ao que minha mãe fazia: rezar uma oração especial para que algo perdido apareça. Minha mãe foi embora e não me ensinou o tal responso. Ainda hoje quando eu perco a tal carteira eu penso na minha mãe, que lá do céu, sem se cansar e sem reclamar deve rezar o responso, pois ela sempre aparece.
Farei aniversário dentro de alguns dias e ganharei, conforme promessa de minha irmã, uma outra, nova e mais bonita. Não há necessidade de garantia de vida para ela, mas que traga consigo um atestado de permanência junto ao dono. Se não tiver esse atestado que então levem-na ao padre para benzê-la, antes de me presentearem.
No dia que a nova chegar, guardarei a antiga com muito carinho, pois eu acho que ela me ama, porque ela sempre volta para mim.