CEM GRAVATAS
Roberto Corrêa
Recordar serve muitas vezes como bálsamo, ou estímulo. Não faz muito, estendendo a toalha sobre a mesa, para o café da manhã, minha esposa, lembrou-se que a mesma fora um presente da filha, nos idos de 80 ou talvez do seu pai que possuíra pequena loja, também nessa época. Lembrei-me, então, com saudades desse tempo e da multidão de objetos que passam pelas nossas vidas, sem qualquer significado, salvo o de nos ter sido útil e, por isso, talvez, conserve intrínseco, parcelas inexplicáveis de nossa afeição. Além de fotografias, guardo muitos objetos antigos, sendo que, por acaso, notei possuir cerca de 100 gravatas.
O interessante dessas gravatas, é que, quase todas, me fazem recordar aspectos ou fases da vida, recriando a história na qual nos consideramos o personagem principal. Acreditamos que muitos tenham coleções diversas ou manias semelhantes e sirvam-se das mesmas com iguais ou até mais nobres objetivos.
O leitor talvez indague porque escrever sobre assuntos tão banais quando pululam por aí temas relevantes, curiosos, polêmicos como por exemplo o plebiscito sobre a dívida externa, a manifestação papal na "Dominus Iesus", os cinquenta anos da tevê, o fracasso do Brasil nas olimpíadas, eleições municipais, etc. A resposta é simples : justamente para não complicar mais. Estamos precisando de tranquilidade e paz e alguns desses temas são inquietantes. Neste momento, a quase unanimidade entende que, todos resolvendo o próprio problema económico, tudo será bem melhor e diferente . Engano. Pois, como nos dá testemunho o passado, o homem ,com o sestro pecador entranhado na alma , quanto mais dinheiro tiver mais violações poderá cometer.
Os males do nosso tempo se encontram globalizados na crise moral, que nos assola e nos devasta há décadas. Podemos até admitir que tais males coincidem com os cinquenta anos da televisão brasileira. E essa afirmação não é polêmica, salvo para os eternos contestadores, que estariam do lado de Lúcifer, desde a primeira e grave revolta no Universo. Qualquer pessoa, por mais simples que seja, sabe que a educação é tudo e que o aprendizado deve ocorrer desde a infància. Ora, se se ensina para as inocentes crianças o nazismo, o facismo, o comunismo , se se estimula a sensualidade, a violência e todos os vícios com audiovisuais constantes e diários, o que se pode esperar dessa gente quando crescer?
Os crimes todos que a sociedade reclama hoje e angustiosamente sofre, são consequências dessa permissividade televisiva que o Ministério da Justiça titubeia em solucionar, equivocadamente temendo violar princípios democráticos. Todavia, o País não sairá dessa crise moral enquanto não coartar com energia os descaminhos da televisão que, infelizmente, não funciona só para lazer mas também como instrumento educativo ou deseducativo . Não podemos fazer nada, salvo exteriorizar nossa insatisfação. Contudo, estamos esperançosos que desta vez (segundo informações da mídia, aliás cada vez mais escassas, a medida que passam os dias), ao menos se venham exibir programações de acordo a faixa etária e horários recomendáveis. Enquanto esperamos notícias alvissareiras, colecionemos selos, figurinhas, ou outros objetos, como gravatas, que não nos deixam desencantar da vida totalmente.