J acordou sobressaltado por un sonho. No rio Ganjes, na India, alguns monges muito pobres diziam-lhe:
_ Você terá que retornar aqui para pagar um tributo...
Ele tinha, na época do sonho, dezoito anos... Quem eram
aqueles monges? O Ganjes? A India? O sentimento de
angústia e dívida?
Depois do sobressalto, voltou a dormir.
Passaram-se anos. Entre trabalhos e leituras,
J prosseguia a vida em rumo de sua autodescoberta,
com a grande inquietação e tribulação que o sobressaltavam
sempre, fazendo sentir-se em débito e fragmentado.
Depois de assistir a uma palestra em Recife, J fora
convidado pela monja a conhecer um centro budista
no Sumaré, em São Paulo.
- "E maior centro budista do país",
dissera a Monja.
O Buda gordo, magro, sorridente, enviesado, com
mil lendas e mil nomes, fabuloso, veio trazer
sua magnitude a todos os países desse mundo,
praticamente.
Mistério grande, o Buda.
O corpo iluminado, a fala iluminada, a mente
iluminada.
Quatro nobres verdades... oito caminhos...
Qaundo J entrou no centro paulistano, atribulado,
reconheceu as mandalas, a cor laranja, incensos,
os tapetes, como se todos aqueles símbolos fossem
parte de sua pele e interioridade. Num gesto longo
e demorado, puramente intuitivo, curvou-se por
três vezes saudadando sem saber o Dharma,
a Sangha e o Buda, as três jóias dos Budas
eternos...
Anos depois, ajoelhado diante da lama,
fazia o juramento.
_ Prometo de hoje em diante não fazer mal a mais
nenhum ser vivente, a praticar e difundir
o
darma
todos os dias da vida, fazendo de tudo para a
felicidade a a libertação dos seres.
Relembrava agora, diante do mar,
toda a sua trajetória que um
Buda misteriosamente esculpido na areia
o fizera relembrar. Talvez ele sonhe comigo ou
por mim, pensava J.
Marcelino Rodriguez, escritor hispano-brasileiro, autor de "O Obervador de Pardais" 1996, "O Espião de Jesus Cristo" 1999, "Juvenília" 2000, "Café´Brasil" 2001, "A Ilha" 2001, "Boneco de Deus" 2002, "Mar, Romàntico Mar" 2002, prêmio Pérgula Literária Internacional e Ação Cultural.
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