"Ar de tarde é, sem alarde, o que mais arde. E era
nas tardes dominicais que, passadas a eventual ida missa - que não se celebrava assim tão religiosamente, por falta de Cura fixo; a conferência dos vicentinos; o almoço, que aos domingos perdia a condição singela de bóia pra virar almoço tout court; e, alguma fazeção de quitanda ao forno de quintal, o povo ia pra rua,
ruar, bater papo e pernas nas moas ao ar ou ao bar. Se não descansar, ao menos zanzar até se cansar, naquele dia que o Senhor reservara para o seu próprio repouso - e o nosso burburinho.
Aquela estraladeira dos teares da fábrica se calava de repente. E já era um bem que valia por cem. A algazarra da moçada, que em seu lugar se fazia, no entanto, do rompante de chaminé, mal chegava ao pé.
Em torno campo de futebol, é que juntava a animação,lá na várzea, a parte mais baixa do lugarejo,virava o seu ponto alto. E não era pela bola que a moçada rolava, apesar de que, pelo menos uma vez - vi e contei - ter aplicado uma sonora surra de 5 a 2 num time da Ibitira. Memorável goleada, num tempo em que Romário estava mais pra bebê. Ou beabá, ou era mesmo só o Babá?
Mas gols de placa se faziam era em volta do campo,nos barrancos, nas laterais, ou no rego de trás,via namoricos, que iam da iniciação à devastadora consumação. Mesmo que as bolas teimassem em não entrar, domingo dia era de namorar, interpenetrando-se sol da tarde e paixão que mais arde. O que não dava pra entender era o Mozar, aquele mulato alto, sempre de olho no lance, sem nuance, ficar à volta do campo o tempo inteiro e, da silva, se manter solteiro."