Ei-lo que aparece vestido de esmeralda e sol com detalhes de céu e paz. Espelhado, ao vivo, nas telas eletrónicas e nos olhares arregalados e sorridentes, em passos mais que largos, lidera a multidão que o segue.
Fora lindo, deslumbrante, vê-lo. Apesar do esforço que lhe banhava o corpo de suor e o astro a lhe queimar a pele, seguia ele demonstrando serenidade. Palmo a palmo, ia cumprindo a prova a que se propós em meio à quela multidão. Firme, avançando sempre, destemido.
O alarido dos que o ovacionavam e a energia gasta nos muitos quilómetros palmilhados não o abalavam: fisionomia sem um sinal de contração, cadência inalterada, concentração para um feliz desfecho. Tal uma estrela a iluminar os amantes do belo, que se deslumbram diante do mar, passava ele respingando raios dourados e tingindo de verde os olhos dos espectadores presentes e distantes, que suplicavam, aos Céus, sucesso à empreitada tão sua e quase, galhardamente, vitoriosa.
Lá, vinha ele, sentindo já, na alma, um gostinho de FELICIDADE conquistada.
Súbito, como se surpreendido por um sinistro raio que surge para fulminar, aquele gigante sente-se tragado pela insensatez, insanidade e feroz fanatismo religioso de um louco que lhe muda a rota, atira-o contra seus admiradores, roubando-lhes a brilhante cena; suga do gigante a potência e esmaga-lhe os louros de uma antecipada e incontestável vitória.
Socorrido, em primeira mão, por diligentes e robustos cabelos brancos, escorrem-se rápidos, chocantes e lamentados segundos.
Extasiado, o mundo presencia o ainda mais emocionante e inesperado quadro. Imaculado, persistente, exuberante, o nosso herói, fortalecido pelo amor ao esporte a que se dedica, retoma a pista e a velocidade, malgrado o episódio responsável pela perda de primeiríssima colocação que vinha mantendo e que lhe foi, de modo traiçoeiro, subtraída.
Longe, na imagem do maratonista verde-amarelo, o Brasil chegava. Semblante iluminado pelo sorriso, bandeira desfraldada, coração aos pulos, aplaudido calorosamente, ultrapassa ele a linha de chegada, quando é oficializada sua colocação de terceiro lugar, garantia de medalha de bronze. Sim, foi bronze, sem contestação. E o herói injustiçado, sem se valer de qualquer protesto ou de um mínimo gesto de insatisfação, só queria sorrir e agradecer. Simples e nobre, no mais baixo degrau do pódio, saudava a injustiça, zerando a decepção.
Em razão da humilde aceitação das regras impostas, bem como do gesto fraterno aos dois companheiros, de outras pátrias, que o ultrapassaram no seu instante trágico e do espontàneo perdão ao ofensor, foi ele invejável! Atleta na acepção máxima do termo: ao par da tenacidade física, integridade nas atitudes. Esses valores, associados, valem de selo qualitativo ao desportista.
Graças à admirável postura esportiva desse nosso gigante, momentos próximos do apagar da tocha olímpica em Atenas, os povos do planeta tiveram oportunidade de testemunhar a índole pacífica e humana do brasileiro; os incrédulos disto, de digerir, quisessem ou não, a verdade contida no slogan, durante os preparativos e realização das Olimpíadas 2004: "O MELHOR DO BRASIL É O BRASILEIRO".
O orgulho fica por nossa conta.
Valeu, Vanderlei. Você é OURO!
