FAHRENHEIT- 11 DE SETEMBRO (Filme)
Roberto Corrêa
Um filme que não serve para distrair. Apenas para tomar conhecimento, com mais ilustrações, da lamentável guerra havida no Iraque e suas desastrosas consequências. Aliás, como documentário, não gostei da produção técnica que deixa muito a desejar. Lembramos com saudades dos documentários do cinema clássico que, embora não retratassem toda a verdade - na política e na guerra (na constante apologia aos States)-, eram vistos com prazer. Neste Fahrenheit, até mais ou menos a metade, o filme chega a causar sono São passagens cansativas para nós brasileiros que temos de ficar atentos na leitura das legendas. Em determinado momento, porém, reanimados com violenta explosão apresentada na tela, passamos a encarar o filme com mais interesse até o final.
O filme, sem dúvida, é agressivo libelo contra o presidente Bush e seus assessores, que devem sofrer tremenda baixa de conceito e consideração, pois, segundo notícias colhidas no Estadão de 30-7-2004, trata-se do documentário mais visto nos Estados Unidos, em todos os tempos, e que já ultrapassou, a casa dos cem milhões de dólares de faturamento. Aqui no Brasil quem se simpatiza ou simpatizava com o presidente Bush e assistir o filme, é quase certo que irá rever o seu posicionamento, passando a torcer para a vitória do candidato do partido Democrata nas próximas eleições. Imaginem o que vai se passar nos Estados Unidos! Com o sucesso de bilheteria, os republicanos devem estar preocupadíssimos, temendo, por certo, a não reeleição do presidente Bush. Não podemos deixar de reconhecer o regime democrático americano que permite que seus cidadãos ajam com absoluta liberdade, inclusive exibindo filmes que contestam e condenam atitudes do próprio governo.
O documentário traz ainda depoimento da mãe de um soldado morto em operação militar, relata mais alguns de outros que se encontram no Iraque e focaliza diversas cenas de guerra capazes de nos deixarem horrorizados. Digo capazes, porque vivendo sob o diuturno impacto dos noticiários, das programações terroristas e violentas veiculadas pela mídia, quer-nos parecer que hoje nada mais nos assusta. Fahrenheit ,11 de setembro , não serve como distração, mas apenas como libelo contra a guerra do Iraque e contra o presidente Bush e seu desastrado governo, idealizadores e condutores desse terrível conflito. Estranha-se, pois, como possa ter alcançado tanto sucesso de público e de bilheteria, admitindo-se que todos americanos - do partido contrário- não deixaram de o assistir. O cinema não para de produzir. Assemelhasse à panificadora, diariamente transformando o trigo no pão nosso de cada dia. Infelizmente, esse alimento espiritual que produz - necessitando ou tendendo ser sempre diferente -, apresenta péssimos espetáculos com muita frequência. A arte que deveria nos encantar e sublimar, rasteja pelos sórdidos caminhos da humanidade iníqua.