Eduarda Zandron e Moacir Lopes, escritores, em viagem de férias no Ceará.
Aquela coisa... amigos a arrastá-los para praias, restaurantes, bares, botequins.
Cada dia uma festa, uma cantoria, uma tertúlia.
O número de pessoas a cercá-los, a acompanhá-los, crescia a cada dia.
Sempre a agraciá-los com mimos, atenção, hospitalidade, simpatia.
Certa vez, entrou uma verdadeira multidão em um botequim.
Os bebuns de plantão, meio ressabiados, foram sentar praça em outra freguesia, exceto um.
De início, o recalcitrante apenas observava o animado grupo.
Pouco a pouco foi se acercando, a ouvir atentamente as declamações, as piadas, as brincadeiras.
A partir de um dado momento, já estava quase a integrar o grupo; inicialmente elogiando o que alguém dizia; depois ele, o ébrio, dizia uma frase de efeito, fazia uma observação mais prolongada...
O dono do botequim, que lera os jornais e sabia que Moacir estava sendo tratado como uma grande personalidade, tentou dissuadir o bêbado a fazer parte do grupo.
Claro que sempre com alguma delicadeza, afinal tratava-se de um cliente com cadeira cativa.
Entretanto, Ã medida em que se impacientava, o botequineiro ficava mais grosso que papel de embrulhar prego, até que, num rompante, exclamou:
- Você deixe de dizer besteira! Fica aí dizendo estas bobagens à toa! Aquele lá (apontando para Moacir) é um escritor famoso, do Rio de Janeiro, ele vai ouvindo o que você diz e depois escreve no livro e nós, cearenses, ficamos como abobalhados!
O ébrio:
- Ele é escritor? Escuta o que eu digo para escrever? Então, se ele, para escrever, precisa ouvir o que digo, quem é o abobalhado?
Manoel Carlos Pinheiro
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