A vida caminha necessariamente para a morte. A grande maioria acredita que existe uma outra vida, após a morte, mas detesta tocar neste assunto de caráter escatológico. Na verdade, precisamos ter coragem de encará-lo, porque se trata de situação inexorável: mais cedo ou tarde teremos de enfrentá-lo, não só o tema, mas a própria figura exterminadora. Aliás, se é possível duvidar da existência de uma vida post-mortem, não se pode deixar de crer que o relacionamento com aquela ignota existência (quer nos parecer que muitas vezes seja também indesejada e temida), apresenta indícios de realidade incontestável.
Desde a compra de jazigos em cemitérios, despesas fúnebres, pagamento de médicos, hospitais, farmácias, advogados (inventários), até o zelo pela saúde e prevenção das doenças, tudo faz lembrar aquele inevitável fim.
O grande blefe aconteceria para os cristãos, maioria dos brasileiros se, por ocasião da morte, não encontrassem outra vida - a eterna -, onde receberiam os prêmios pelos merecimentos desta (pensar em castigo seria ainda mais triste), mas deparassem tão-somente com o fim de tudo, com o aniquilamento total. Mortos não podem reclamar, mas se vivos fossem, inelutavelmente clamariam contra a idiotice das próprias vidas, onde não gozaram, não aproveitaram nada, apenas se sacrificaram por um ideal que pode ter se chamado pátria, religião, família, filhos, trabalho e assim por diante.
Mas, qual a razão de se cogitar de assunto tão desagradável, quando todos estamos preocupados com a conjuntura anormal do País e os seus inominados problemas? Apresentamos o tema para meditação porque na realidade, no dia-a-dia absorvente e inevitável, verifica-se que a grande maioria dos cidadãos segue a filosofia do avestruz. Ou seja: apesar de serem cristãos, não acreditam na outra vida e para viver bem e pelo momento presente (segundo a individual e variável óptica), não se incomodam que as maiores barbaridades sejam cometidas. Estão blefando com o Cristianismo e com as próprias convicções, iludindo a todos e a si próprios. Não dá para servir a dois Senhores: a Deus e ao dinheiro. Ou em expressões populares: chupar cana e tocar flauta, andar com o pé em duas canoas.
Espera-se que essa desastrada filosofia tenha fim e do avestruz imite-se apenas o seu caminhar vigoroso. Também se aguarda que - olhando para o alto, consiga o homem contemporàneo solucionar os angustiantes problemas da sua época.