A televisão tornou-se a principal escola destas últimas décadas. Penetra na maioria das residências - da mais rica, com pluralidade de aparelhos, sofisticados videocassetes e devedês, até a mais simples, onde se conglomera a vizinhança desguarnecida -, lançando as mensagens que a mídia eletrónica quer, sejam boas, más, desnecessárias, inconvenientes, em suma morais, amorais ou imorais. As imorais predominam, as inconvenientes abundam, as desnecessárias transbordam e a sociedade se queda aparvalhada assistindo ao cataclismo. Não há necessidade de ser professor, psicólogo etc., pois qualquer cidadão de bom senso sabe que a melhor forma de aprendizado é "mostrar" a coisa, o fato, o objeto e se possível, repetir várias vezes tal cena para o indivíduo gravá-la na sua memória e inteligência.
O que faz a televisão em seus apreciados e esclarecedores noticiários? Envolve em atmosfera de filmes os nefandos sequestros, comunicando ao telespectador episódio (como se fossem capítulos de novelas), estimulando - explícita e implicitamente -, as mentes doentias a se tornarem personagens de aventuras semelhantes. Assim também procede noticiando outros crimes bárbaros, como roubos, assaltos, homicídios, tráfico de drogas etc., tudo no afã de bem informar, de manter perfeitamente esclarecido o telespectador de todas as idades. Qual a vantagem desse tipo de programação? Que educação transmite aos que a assistem, principalmente se forem crianças, adolescentes, carentes ou mentecaptos? Por que as autoridades permitem esses "instrutivos noticiários"? Será por que a Constituição libera toda e qualquer espécie de censura? Mas, e os fundamentos éticos e a dignidade humana, constitucionalmente protegidas onde e como ficam?
A sociedade se queixa do aumento da violência e da criminalidade, sofre na pele os descalabros da corrupção, dos sequestros, dos roubos, da imoralidade em geral, mas num estoicismo de estarrecer, permanece de braços cruzados, apreciando a borrasca e as nuvens negras que se formam no horizonte...Precisamos reagir. A sociedade foi criada para servir e ser útil ao homem. Não o contrário.
Não há razão para que permitamos que energúmenos da comunicação a conduzam e tornem a vida na Terra um inferno. A não ser que a lassidão nos tenha envolvido de forma definitiva e nos encontremos sem fé, desestruturados na fraqueza humana, tão bem-retratada pelo poeta latino Ovídio - há cerca de dois mil anos - , no indefectível verso: Vídeo meliora proboque, deteriora sequitur ("vejo o melhor e o bom, mas sigo o pior").