AO CAIR DA TARDE
Roberto Corrêa
Em belíssima tarde de outono ao retornar para o aconchego do lar, gostaríamos - quem sabe - de fazer poesia, face à tranquilidade, à quietude, à imobilidade que, à s vezes, pode ocorrer. Não é sempre que somos bafejados pela graça, dom divino que irradia eflúvios de alegria, ardente esperança de ventura, enfim , a felicidade que parece estar ao nosso alcance. Então tudo se torna mais fácil, inclusive a estupenda arte de escrever. Assuntos áridos e controversos, divergências permanentes e incontornáveis, maniqueísmo eterno e sempre presente, tudo , tudo se nos afigura de lógica palmar e plena compreensão.
Como, por exemplo, o fracasso da comemoração dos 500 anos. Por que náo ocorreram maravilhosas festividades, por que não se entoaram hinos de louvor aos descobridores, e hosanas ao progresso alcançado no decurso desses 500 anos ? Simplesmente porque a turma do partido contrário ou da oposição ( aquela da piada espanhola de que se há governo , sou contra) e que jamais deixará de existir, resolveu por " as manguinhas de fora" e a boca no trombone, lançando os estridentes sons da iconoclastia. Aproveitaram a onda de violência, desemprego, insatisfação e miséria reinantes para proclamarem que tudo está errado, a partir do descobrimento.
Entendo, outrossim , porque principalmente nas grandes cidades se encontra fartura de imóveis para serem alugados ou vendidos e o movimento em geral caiu, todos se queixando de invisível crise, fundamentalmente económica (de crise moral é inconveniente pensar). Tudo isso, ao meu ver ocorre, porque vivíamos com dinheiro emprestado que agora não é fácil , eis que os credores - distintos agiotas- estão mais exigentes e assim , pode-se dizer que as fontes secaram... A tal de globalização, que nada mais é do que os grandes destruindo os pequenos ou seja naquela popularesca linguagem de 50 anos atrás "os tubarões engolindo os lambaris e peixinhos miúdos" está aí. Hipermercados e shoppings em quantidade seduzindo todos os consumidores, obrigando a centralização e por consequência exterminando o pequeno comércio , primário e de poucos recursos.
Entendo porque todo mundo aceita todo mundo, ninguém faz crítica de ninguém e porque sorrisos e tapinhas nas costas são abundantes e faceiros... Isso não será porque cresce o reinado da hipocrisia e todos aceitam as opiniões divergentes para se sentirem integrados naquilo que chamam de democracia ? Democracia e tolerància não passariam a ser a mesma coisa ? Não sei não, mas o raciocínio está me levando a concluir que na democracia a convivência de gatos e cachorros, lobos e cordeiros, raposas e galinhas ,tigres e veados, pássaros e gaviões, crocodilos e peixinhos deve ser pacífica, não prevalecendo a lei do mais forte e do antagonismo incompatível...
Mas, deixa prá lá. A tarde vai aos poucos desaparecendo e a escuridão próxima, nos faz render, mais uma vez, graças a Deus por termos um lar e por receber tantas benesses . Lastimamos a miséria que aflige numerosa parcela da população e indagamos : será que esses deserdados da sorte ainda não receberam a mensagem divina ou ignorando-a não cumprem os mandamentos divinos, a ponto de não serem contemplados com a abundància, mas com a escassez de graças ?
Há necessidade de refletir. Não hoje, porque a belíssima tarde virou noite e esta, escura e fria , nos convida ao recolhimento.
