Em diversas ocasiões da vida gostaríamos de parar o tempo. Seriam naqueles momentos de extrema alegria, felicidade ou naqueles outros em que, constatando ou percebendo - por exemplo - o desaparecimento de entes queridos ou a gravidade da situação em longínquos horizontes, tememos a aproximação da tristeza e dos inevitáveis sofrimentos inerentes a toda criatura humana.
Como seria bom - em determinado instante - se tudo pudesse ficar como está. Parados na mocidade bela e entusiasmadora ou mais adiante, acompanhando os filhos na pré-escola ou na faculdade. Desfrutando as férias de inverno ou de verão, trabalhando ou estudando com método e disciplina, sub tegmine fagi ( Ã sombra de uma figueira), sentindo-se feliz com a saúde estupenda e as finanças absolutamente controladas. Nesses venturosos instantes encantam-nos os dias lindos, de pleno sol, as noites estreladas, de negror profundo e não deparamos com a tristeza senão no triste canto do galo, no despontar da madrugada...
Talvez aqui se encaixasse aquela terna e suave passagem evangélica na transfiguração, onde Pedro, Tiago e João subindo ao monte Tabor com o Divino Mestre, pretenderam permanecer ali para sempre, tão maravilhosos eram o local e o momento. Mas a vida, exigindo movimento constante, não pára e tudo se move, inclusive o planeta Terra que nos abriga. Por isso, temos de prosseguir, preencher o tempo da melhor maneira possível, sem dúvida alguma não nos olvidando do secular ditado ars longa, vita brevis (as atividades são intermináveis, a vida é breve).
E, uma vez que não conseguimos parar o tempo, quem sabe poderemos empregar meios capazes de o tornar permanentemente benfazejo, a ponto de jamais lastimar o seu escoar inexorável. Usando a inteligência ou razão, vislumbramos a possibilidade de alcançar esse objetivo: basta evitar o mal e praticar o bem. Como seres racionais conhecemos o mal (tudo que prejudica o espírito e o corpo) e o bem (tudo que engrandece e eleva) mas encontramos séria dificuldade na prática de tal determinação. Neste momento estaríamos perdidos em noite escura, sem bússola e sem guia, mas nos lembramos, então, com intensa alegria, que somos cristãos e que o Divino Mestre não nos abandona, bastando pedir para receber.
Peçamos pois - ao Supremo Criador - impossibilitados de parar o tempo, que nos ampare e nos proteja sempre. Sejam suas graças tão benéficas a ponto de entendermos que um mal - aparente e paradoxalmente - poderá, muitas vezes, vir a se constituir em verdadeiro bem. Ao final, deparamos com místico provérbio que nos fez lembrar de um inesquecível professor de ginásio, irmão marista Manoel Pedro, que repetia sempre, enfaticamente: "Não há males que para bem não venham".