TUDO ACABADO
Roberto Corrêa
Exatamente há cerca de um ano , fui envolvido pelo problema da separação de pessoas bem chegadas. Valeu-me motivação para duas Cronicas :Os Outros Sofrem e Destroços da Separação. Hoje tudo se acabou. Voltei ao lugar do crime, ou seja , a casa construída pelo João de Barro para aninhar suas crias. Encontrei só destroços. Tudo empilhado, desarrumado, arrebentado, abandonado. Valiosos tesouros que algum dia brilhavam e que aparentavam ter valor para a vida. Nada mais; tudo abandonado : sobre a mesa, pratos, louças em geral, material escolar, fotografias, de um tempo aparentemente maravilhoso , que passou num piscar de olhos.
Não adianta chorar dizia o velho Chacrinha; errou Chacrinha buzinou. Erros existem aos montões. Mas alguns são absolutamente fatais e de trágicas consequências. Vejam as falhas mecànicas e humanas que culminaram com a queda do Concorde e do engavetamento de trens em Pirituba, em julho último . No relacionamento familiar a sua ruptura com a separação ou o divórcio, também é trágica. Motivada por um erro de entendimento (desentendimento) ou de incompatibilidade (real ou fictícia), as vítimas podem não ser tão numerosas (como em desastres), mas sofrem bastante, ao menos de forma incruenta. Já se tornam frequentes, outrossim, essas desavenças familiares terminarem em tragédia, como a da cidade mineira de Arcos, em que um cidadão matou a ex-mulher, ex-sogra, ex-cunhado, a própria mãe, um irmão e tentou o suicídio.
Tragédias e sofrimentos do cotidiano, segundo a lei da vida, precisam ser superadas. Bem-aventurados nós outros que bafejados pelos princípios do Cristianismo encontramos consolo para todas essas dores. A inspiração divina nos faz erguer o peito, respirar fundo e, encantados com o calor e a luz solar, a pureza do ar e os eflúvios da graça, sorrir para a vida. Nada está perdido . O amanhã certamente será melhor porque, impulsionados pela sombra da divindade, descobriremos que tudo é passageiro e que a nossa destinação é eterna e onde todos os nocivos vínculos da carne não subsistirão.
Há necessidade de nos unirmos com a divindade. A religião cristã que a maioria pratica, seguramente oferece os meios para esse conúbio que nos encherá de paz e felicidade. Para Deus onipotente nada mais fácil do que transformar sofrimentos e tristezas em alegrias e prazeres. Não podemos nos desesperar. Ao contrário . Vamos confiar. Não haja sofrimento em mandar para o lixo aquele turbilhão de objetos que algum dia representou muito para nós. Logo seremos aquinhoados com coisas novas, belas, rejuvenescidas inequivocamente melhores. Tudo estaria aparentemente acabado. As provações foram muitas, mas a perspectiva da vitória nos estimulando, inclusive com os despojos dos vencidos como recompensa, chegaremos a ter fartura, abundància, consequentemente voltando a reencontrar a alegria e a paz.
Terminando a crónica , assina-lo que o parente próximo que foi contemplado com o sofrimento da separação, já atravessou o oceano pelos céus, e com o entusiasmo, a bênção de Deus e nossa, orações dos amigos e parentes tenta recomeçar uma nova vida. Pela complexidade dos fatos, pelas dificuldades que a vida nos impõe, a nós outros , mais chegados, só nos resta rezar e colocar tudo nas mãos da Divina Providência .
