Os tempos são difíceis. Todos objetivam o bem estar próprio, das pessoas mais chegas - quem sabe -, de toda a sociedade que constitui o País. Assim direcionados vivemos, dia após dia, ocupados nas respectivas atividades que a vida nos reservou. Se todos cumprem os encargos que lhes competem, por que ao final, a insatisfação, a desarmonia e o desencanto nos diversos níveis sociais? Deve existir um ponto crítico, uma falha, um erro clamoroso, gerador das angústias e de todos os problemas. Não desconhecemos o crucial ponto, mas nossas mentes pensam diferentemente, as colocações e as soluções para safar-nos das crises - material, moral, espiritual -, são desprezadas ou relegadas, face à observància rigorosa da lei do menor esforço. A desunião, decorrente do egoísmo avassalador - que se alimenta da inveja, da cobiça, do desamor etc. - é erigida em verdadeiro bloqueio, impeditivo das voas ações, do progresso e do acalentado triunfo. Ninguém ajuda ninguém. Complicam-se ou dificultam-se a própria vida e a do próximo. Faltam boa-vontade, cortesia, educação. Predominam agressividade, violência, maldade.
O problema está detectado. Resta equacioná-lo e solvê-lo. Economistas entendem que tudo é uma questão de dinheiro. Existindo este fartamente, as crises serão resolvidas. O argumento realmente procede, em parte, e a maioria da sociedade, ao que parece, batalha na persecução desse objetivo. Mas induvidosamente retornamos ao ponto de partida porque - na concretização de tal escopo - a lisura ou correção das atividades, com frequência, são desprezadas pelo ardoroso anseio da conquista fácil. Moralistas asseguram que a inobservància dos fundamentos éticos, consubstanciados principalmente pelo Cristianismo, é que impedem a normalização da vida social. Deveras, a nosso ver aí se encontra a chave da questão. A dificuldade é colocá-la na fechadura e abrir a porta da esperança, porque as forças antagónicas embaraçaram e impedem a movimentação pretendida. Como essas forças constituem o maior número e são poderosas, fazem a cabeça da população desguarnecida, de múltiplas maneiras, principalmente através do voyerismo voluptuoso e imoral das novelas, filmes et caterva.
Assim, como o bloqueio humano - de superação imprevisível -, o pobre mortal terá de agarrar-se à s próprias defensas interiores, clamando por ajuda ao Deus em que eventualmente, acredita e confia. Para não terminar amargamente, transcrevemos os belíssimos versos de Camões, verdadeira oração queixosa: No mar, tanta tormenta e tanto dano/, tantas vezes a morte apercebida;/na terra, tanta guerra, tanto engano,/ tanta necessidade aborrecida!/ onde pode acolher-se um fraco humano, / onde terá segura a curta-vida,/ que não se arme e se indique o céu sereno, contra um bicho da terra tão pequeno?