São pêras. Não há dúvida, ou como dizem no direito, não há dúvida razoável. Houve muita hesitação, muita especulação, mas impedido de dividir os comentários e impressões, vejo-me na contingência de tomar a decisão solitariamente. Este negócio de tomar decisão é assim mesmo. É uma atividade não raro solitária, nem sempre se pode compartilhar as informações para uma melhor decisão. Nestes casos, comentar seria muito desagradável e, tratando-se de matéria polêmica, pouco adiantaria. Sem falar que, surgindo alguém cheio de certezas causaria uma comoção, talvez alguma revolta. Melhor confiar nos elementos disponíveis e arriscar um pouco.
Mas são pêras. Finalmente foi possível ver melhor. Não que tenha sido visto de verdade, não, nada disto. Apenas ficou mais fácil, ou menos difícil, imaginar o que havia para ser visto, intuir a forma verdadeira.
Não que fizesse diferença. Pêras ou maçãs, lindas haverão de ser. Mas há um grau razoável de certeza de que são pêras. Pequenas e singelas pêras. É que a comprovação completa só pode ser feita assim, como dizer, ao natural, sem embalagem nem obstáculo e isto, realmente não é possível.
Tem certos mistérios que nem precisam ser desvendados. Melhor o sabor da dúvida, o gosto da especulação, a menos que a descoberta seja completa, irrecorrível. Aí, não há como negar que é melhor aproveitar a realidade. Mas quando a descoberta é parcial, melhor continuar imaginando. Há fortes indícios e pistas concretas que levam a que se considere de forma definitiva de que são realmente pêras. Belas pêras, tudo indica.
Estes mistérios, depois de resolvidos, de certa forma perdem a graça, pois não há mais o que imaginar, se bem que este não seja propriamente o caso. Resta ainda uma margem para especulação, quando mais não seja por não serem as pêras todas iguais. Cada uma tem seu encanto. E nestes casos de pêras ou maçãs ocultas o bom mesmo é especular, imaginar, sondar, talvez descobrir.
São pêras. Eu acho.
Escrito em 07.08.2003
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