Ficar sem dormir já não me basta. Já sei quem encontro quando o sono não
vem. Sei de mim a cara, o que faço quando as horas se deitam em suas
próprias camadas, como encontro-me quando o dia invade a sala.
Dormindo, sei já quem sou. Sei dos olhos à espreita de mim mesma e dos
planos que faço para que não escape um sonho apenas. Sei da caçadora
noturna, mítica, que se esconde em cada espaço.
E os dias não se satisfazem mais nesse mim em que me transformo quando cada
vaga é conhecida, pois por demais vivida.
E a própria idéia da morte não é algo que mais me seduza, tanto imaginei os
caminhos e pontes. E possibilidades. Até de deus já imaginei todos os
sentidos. Nele não encontro prazer mais. Tampouco em seu suposto oposto,
para seu governo.
Se eu fosse um bicho que não esse, uma troca de pele poderia me fazer bem.
Algo que me arrancasse de mim e das tantas mil que imaginei sendo. Ainda que
não fosse.
Não me reservam surpresas esses eus não vividos, esses já distendidos,
experienciados.
E não busco mais nada.
Dei de cara comigo mesma. E a viagem não é mais agradável. Não porquê exista
algo que me desagrade. Mas porque todos esses eus já me são conhecidos. É
como se eu estivesse no fim da viagem.
Essa agora é a minha realidade. Assim como vivi todas as outras, vivo essa.
E não há gosto amargo. Nem doce. Nem de insolubilidade. Há gosto de erva, de
mistura, de petição. E há para quem não pedir. Eis que não creio. Eis que
não descreio.
Estar no meio da bifurcação. Célere, furacão vem vindo. E não me atiro.
Tampouco fujo. Apenas espero. Como se com o peito fosse possível aguentar
tudo isso. Não sou imortal. E cuspo na pecha da mortalidade que me ronda.
Meu nome agora pode ser orgulho. Ou Cansaço. Embora não sentido. E nas
agruras da vida, sou um homem do meu tempo. Nem sana, nem insana. Repleta de
sentidos. Vida é o meu nome. E digo à ela: para com isso, não quero mais
brincar contigo!
