A solidão
Triste, sozinha, uma amiga,
bronzeada!, ligou, pedindo
para afagar-lhe o coração...
Não pode haver quem goste de ficar sozinho. O poeta, quando se entrega à solidão, busca a companhia da Lua. Quer estimular a inspiração, garante ele, mas, no fundo, não é nada disso! O satélite da Terra seria capaz de fazer criar verso encantador, sabendo-se que, quando o cão uiva, olha para ela? Se é que, simplesmente por olhar para ela, não se lhe desperte tristeza, e então uive. Uiva e assusta os homens! Desconheço quem aprecie uivo.
Mas a Lua não é má. Nem triste! A Lua é bela! A solidão é que é macabra. E não seria a solidão quem leva o poeta a socorrer-se do que não lhe podem arrancar em nenhuma hipótese? E não seria a solidão canina quem lhe faz subir ao mais alto cume para uivar sua poesia repetitiva, enfadonha, plangente? Irracional, sem papel nem caneta, de ponto elevado talvez pretenda ser ouvido por todos, de improviso, inclusive pela vigilante Lua.
A solidão, independente da Lua, é o vazio. E o som do vazio é a ausência da voz de quem amamos, sem importar a natureza e/ou a intensidade do amor. Não importa se é a ausência patriarcal, matriarcal e filial ou dos amores perdidos e dos amigos sumidos. O solitário não está separado apenas dos outros, mas de si mesmo, pois não se basta, é incompleto, imperfeito, finito... É Adão, sem Eva; Caim, sem Abel. Só o Criador é, porque é!
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