De uma vez por todas, precisamos nos definir. Se somos cristãos temos de acreditar nos fatos bíblicos inclusive naqueles relativos à criação do homem. E, com maior razão, na tentação não-vencida de Eva e posteriormente de Adão, de comer a maçã, a fruta proibida. A serpente, materialização do demónio, acenou para Eva, insinuando que - comendo a maçã - eritis sicut dii (sereis como deuses). O pecado de Adão e Eva, é bom ser relembrado, consistiu na soberba, na lesa majestade, porque ambicionaram ser deuses. Naquele exato momento da história, cabe encaixar a liberdade, faculdade humana fundamental, desconhecida, ignorada ou mal compreendida pelo grosso da população do século XX.
Deslumbrado com a tecnologia, com o progresso alcançado pela ciência, o homem contemporàneo, que cria robós, computadores e reexamina teorias sobre as origens do Universo etc., olvida-se da liberdade, consequentemente, da finalidade da própria existência. Cético ou agnóstico, embora muitas vezes se rotulando cristão, esse homem, na prática, é determinista porque não utiliza a liberdade na busca e escolha dos valores positivos que enaltecem e dignificam a vida. Os gritantes problemas sociais - excessiva miséria, violência desbragada, corrupção física e moral - estão aí para justificar o que escrevemos.
O pecado original, opção pela maçã, (primeiro teste a que foi submetido o homem), destaca o claro uso da liberdade pelos pais da humanidade. O criador de todas as coisas respeitou a liberdade de Adão e Eva que escolheram (e mal), o próprio destino e da descendência deles. Hoje não adianta lastimar. Encontramo-nos diante de um fato consumado e de só dispormos da liberdade (é claro, com a indispensável colaboração da inteligência e da vontade) para direcionar o rumo de nossas vidas. Como escolher bem, para não errar, que fazer para tomar a direção acertada; evidentemente exige cautela e invocações ao Divino Criador, porque somos simples criaturas, limitadíssimas, com a pequenez da nossa inteligência, tênue farol que apenas vislumbra a grandiosidade da destinação humana. Para terminar, transcrevemos algumas linhas do exórdio da encíclica Libertas Praestantissimum (Sobre a Liberdade Humana), do Santo Padre Leão XIII: a liberdade, excelente bem da natureza e apanágio dos seres dotados de inteligência ou de razão, confere ao homem uma dignidade em virtude da qual ele é colocado entre as mãos do seu conselho e se torna o senhor de seus atos. E o que, todavia, é principalmente importante nesta prerrogativa é a maneira como ela se exerce, porque do uso da liberdade nascem os maiores males, assim como os maiores bens.