O caso que agora vos conto
conto por nenhum conto.
Só por divertimento e alegria
Pois foi na Procuradoria
que um paraíba e um irmão
selaram por mor confusão:
uma peleja, um barulho... porfia.
É que numa certa Divisão
falando de igreja, esse irmão
irritou um desafeto valente.
Este o pegou, e bem rente
o expulsou pelo vão de saída.
E por que fez isso... A ferida
Armou-se no coração do crente:
- Espere por mim, seu tratante!
- Um samurai vai infernar sua vida!
E se vocês meus amigos, pensam
Que esse desafeto era o de riba
Incorrem em erro, em engano.
Na verdade o dito profano
Era um condutor de vidas
Nascido em outras ermidas
Um trabalhador pernambucano.
E agora lhes digo como
A questão sobrou pro paraíba.
Ao ouvir o vaticínio do irmão
De um “páreo” para enfrentar o valente
O da terra das mulhé macho
Riu-se que nem palhaço:
- Oxente homem de Deus!
É um páreo ou um padre, esse seu
Valoroso oponente...?
Disse o irmão, irritado:
É um 3º dan (primo meu)
Desses bem acochado
Faz o valente tremer
De tanto medo, coitado.
E se eu mandar bater
Tanto nesse descrente
Digo que se sobrar um dente
Judas será perdoado.
De pronto o pernambucano
Rebateu sem cerimônia:
- E eu te dou dois anões
E dos que têm parcimônia.
Garanto que vais correr
Para não entrar pelo cano.
E quando voltarem ao circo
Os dois anões terão dito:
- Eita crente dos frouxos!
Se Sansão o tivesse quisto
Perderia de Deus o seu posto.
O paraíba, rindo que nem menino
Gozava da sorte, o destino
Do crente desafortunado.
Por isso, mudando de lado
O irmão disparou com veneno:
- Pra você, paraibano
Não preparo nem três
quatro, cinco ou seis,
mas “um quinto de dan” somente.
Num instante ele te deixa silente
Triste e acabrunhado.
Mal sabia o devoto
Que o paraíba era bem achegado
A comprar uma briga
E uma querela das boas.
Era o maior contador de loas
Daquela terra pequenina.
Pois logo lembrou da menina
Aquela mesma: a Cinderela
Para dizer que com ela
E os seus sete anões
Faria ao crente uns sermões
Acerca do livro sagrado.
O crente, com o livro na mão
Dizia, sempre, assustado:
Como alguém, engraçado
pode se rir de dia e de noite...
Eu preferia até um coice
De um cavalo fariseu
A ouvir dele os gracejos.
Daí que suplicava a Deus
Que o paraibano logo fosse
De folga pro seu lugarejo
E lhe deixasse em paz
Na companhia dos seus.
E não é que por coincidência
Chega a folga do agrestino
Logo quando ao Deus Menino
Mais pedia o pio irmão.
Daí que por revelação
Conta a todos, entusiasmado:
Se há na terra paraíso
Lugar santo, local sagrado
Este é o que eu piso
Desde que tem viajado
O que tem graça comigo.
Mas o dito gozador
Por ter muitos bons amigos
Ao chegar do seu descanso
Foi de pronto advertido:
O irmão tava mais manso
Calmo e introvertido
Que São Francisco de Assis.
Disse que a paz que sempre quis
Encontrou na sua ausência
E que a sua permanência
Lá por perto da Caatinga
É de há muito bem vinda
Venturosa e feliz.
Para não deixar barato
O paraíba espalhou
Que sucedeu um fato
Que assim o irmão falou:
Na ausência do ridente
Enfrento tanta gente
Que eu só nem sei!
Enfrento qualquer lutador
Daquela arte japonês.
Desde que um metro tenha
E de idade não mais que seis.
E assim os dois se pegam
Na conversa e na lorota
Na verdade o que importa
É que são velhos companheiros.
Mas os colegas, afoitos
Esperam mês inteiro
Pelo dia em que, com gosto
Os seus fiéis escudeiros
Vão duelar assim:
De um lado dois anões;
Do outro “um quinto de dan”
E ao vencedor, não pirulito
Mas um ingresso pra amanhã
Em um dos filmes do Carlitos.