Dos panfletos de antanho Para o cordel hodierno Os poetas no inferno Tolhidos pelo tamanho Estão perdendo arreganho Na arte de bem rimar O processo basilar Das normas da criação Dada a enorme confusão Que não cessa de medrar
O pendor de versejar Tem raiz dentro do peito E perfeito ou imperfeito Quando logra arrebitar Só livre alcança brotar A mensagem do futuro Pelo movimento puro Que Vénus total inspira Sob os acordes de lira Em acoite bem seguro
Ora em extremo apuro Ora em simples improviso Manda a regra do bom siso Que não exista descuro Mesmo que em sítio escuro A função tenha lugar Sendo pois de aconselhar O uso da camisinha Cor-de-rosa ou branquinha Para as gafes evitar
Não se deve desprezar As benesses que uma musa Em segredo inclusa Por amor quer partilhar Para enfim desapertar O cinto da castidade Que a fera sociedade Ainda hoje se obriga Para que o povo não diga Em alta voz a verdade
Afinal a realidade Demonstra que um belo mote Por muito que se encapote Demonstra sempre a vontade Que inunda e invade O poeta transmissor Que dá à luz em flor O que quer e o que não quer Porque a musa é uma mulher E só ela manda e sabe !...