Moço, na minha vida inteira,
Pouco aprendi a ler,
Fiz da roça, minha escola,
Capinar era o dever,
A caneta era a enxada,
A terra, o meu caderno,
O livro, a mata fechada,
Tanto no verão ou no inverno.
Tudo lá no meu sertão,
A gente aprende sozinho,
Pegar cobra com as mãos
Imitar os passarinhos,
Amolar foice na pedra,
Laçar boi brabo no mato,
Fazer da raiz remédio,
Pular cêrca que nem gato.
Mas, quando eu era menino,
Tinha na mente a ilusão,
Crescer e ir embora pra longe,
Pra distante do sertão,
Morar na cidade grande,
Junto da civilização,
Esse era o grande o sonho,
Desse filho de peão.
Hoje moro na cidade,
Mas, vivo apavorado,
Pois, aqui não é lugar,
Pra cristão de Deus morar,
Tudo é tão diferente,
Das coisas do meu sertão,
De dia, uma zuada danada,
De carros pra lá e pra cá.
Não se vê estrelas no céu,
Nem liberdade pra viver,
O povo vive trancado,
Pois, tem medo do ladrão,
Ao invés, dele ser preso,
Prende-se a população,
Casas com grades de ferro,
Cada lar é uma prisão.
E quando eu era menino,
Tinha na mente essa ilusão,
Crescer e ir embora pra longe,
Pra distante do meu sertão,
Morar na cidade grande,
Perto dessa civilização,
Hoje vive um pesadelo,
Esse matuto sem instrução.