Num impulso de saudade
Do meu tempo de guri,
Deixei a minha cidade,
Saí caminhando a pé,
Passo a passo fui até
O sertão onde nasci.
Segui a estrada de terra,
Poeirenta, cheia de curvas,
Subindo e descendo a serra,
Cheguei à margem do rio,
Senti forte calafrio,
Contemplando as águas turvas.
Lentamente, em seguida,
Transpus a ponte de tábuas,
Pelo tempo carcomido,
Um pedestal sobre o rio,
Meu pranto quente caiu,
Misturando-se às águas.
Seguindo sempre em frente,
Novamente o pé na estrada,
Vaguei sobre a areia ardente
Sob o sol do meio dia
E deslumbrado eu revia
A mata verde fechada.
Visitei também a cova
Da minha égua rosilha,
Que morreu ainda nova
Picada por uma cobra;
Oh, quanta saudade sobra
A inspirar-me esta toadilha!
Passei a tarde inteira
Cochilando sobre a relva,
À sombra de uma paineira;
Despertei-me quando ouvi
O canto de um bem-te-vi
Distante em meio à selva.
Quando o sol, lá no poente,
Escondeu-se atrás da serra
E a lua reluzente
Despontava no horizonte,
Bebendo água na fonte,
Dei adeus à minha terra.
Eu, que desejava tanto
Realizar esta proeza,
Terminei em grande pranto
Ao voltar para a cidade;
Fui matar minha saudade,
Quase morri de tristeza.