Entre tantos incidentes
Eu não posso me calar,
Vendo sempre triunfar
O engano e a maldade;
Quantas vidas inocentes
Precipitam-se no abismo
Pelo impulso do egoísmo
Que assola a humanidade.
Hoje, pelo mundo inteiro,
O progresso da ciência
Incrementa a opulência
E o culto da matéria;
Busca o homem no dinheiro
A razão de se viver,
Numa ânsia de poder
Que só traz pena e miséria.
Num regime arbitrário,
Onde impera a injustiça,
A ganância e a cobiça,
Surgem classes desiguais;
O patrão autoritário,
Que detém o capital,
Ganha lucro anormal
E acumula sempre mais.
O operário é quem trabalha
Com afinco todo dia,
Seu salário, todavia,
Chega às raias da injúria;
Esta vida é uma batalha
De contraste tão marcante,
Quando poucos têm bastante
Muitos jazem na penúria.
Neste mundo desumano,
Tão redondo e quadrado,
É verdade o ditado:
Pobre nasce pra sofrer;
Entra ano e sai ano
Sem ver nada melhorar,
Vive para trabalhar
E trabalha pra viver.
Com dinheiro e prestígio,
Rico leva a melhor sorte,
A razão é do mais forte,
Este vence qualquer pleito;
No final de um litígio,
Que o fraco se retorça,
Pois o direito da força
Vence a força do direito.
Realmente nosso mundo
Vai de mal para pior
E a esperança no melhor
Quase não se justifica;
O problema é profundo
E solução já não há,
Fica tudo como está
Para ver como é que fica.
Isso tudo vai durar
Por um tempo indefinido,
Com o pobre oprimido
Pela sanha dos ricaços;
Ninguém pode afugentar
Essas aves de rapina,
Mas a justiça divina
Irá deter-lhes os passos.