O SERTÃO MOSTRA BELEZA, quando começa a chover
José Aires de Oliveira e José Dantas, em 16/06/2003
De dezembro pra janeiro
já aparecem os sinais,
se animam os animais,
do baixio ao tabuleiro.
Do cercado ou do terreiro,
é fácil de perceber
que o ano todo vai ser
de fartura e de riqueza.
O sertão mostra beleza,
quando começa a chover.
Na parede do nascente
aparece um torreão,
confirmando a previsão
já feita por muita gente,
o homem colhe a semente
e semeia com prazer,
espera a mesma nascer,
por força da natureza.
O sertão mostra beleza,
quando começa a chover.
Com as primeiras chuvadas,
modifica o panorama,
vê-se um tapete de grama,
alcatifando as chapadas,
no aceiro das estradas,
muita babugem a crescer,
que chega até parecer
uma toalha de mesa.
O sertão mostra beleza,
quando começa a chover.
O campônio se levanta,
toma café na palhoça,
vai direto para a roça,
cava o chão, semeia e planta,
trabalha e só vem pra janta
já perto de escurecer,
vendo a nuvem se erguer
e dentro uma tocha acesa.
O sertão mostra beleza,
quando começa a chover.
Junta toda a filharada,
pra trabalhar no roçado,
tirar leite e tanger gado,
em busca da invernada,
pisando em terra molhada,
sentindo o pé se esconder,
olhando um açude encher,
abarrotando a represa.
O sertão mostra beleza,
quando começa a chover.
Satisfeito com o inverno
o campônio se anima,
vê a mudança no clima,
como quem trocou de terno,
agradece ao Pai Eterno,
na hora de se benzer,
e depois se recolher
com a sua camponesa.
O sertão mostra beleza,
quando começa a chover.
Vê a plantação crescendo,
milho, arroz, fava, feijão,
mandioca e algodão,
e continua chovendo,
o roceiro vai colhendo
os frutos para comer,
acaba todo sofrer,
com alimentos na mesa.
O sertão mostra beleza,
quando começa a chover.
O sertanejo tem fé,
coragem e disposição,
reza e pede proteção
a São Pedro e a São José,....
seja montado ou a pé,
vive ao campo a percorrer,
vendo a lavoura crescer,
vem fartura com certeza.
O sertão mostra beleza,
quando começa a chover.
Brinca a festa de São João
no terreiro da fazenda,
conta história e escuta lenda
do povo da região,
faz cantoria e leilão,
para o povo se entreter,
brincar e se espairecer
de uma antiga tristeza.
O sertão mostra beleza,
quando começa a chover.
Continua no sertão
o homem trabalhador,
um heróico vencedor,
que arranca da terra o pão,
tem apreço ao seu rincão,
trabalha para viver,
tem tudo por merecer,
Deus lhe entrega sem despesa.
O sertão mostra beleza,
quando começa a chover.
Quem se criou no sertão,
sabe o valor que ele tem,
que toda a riqueza vem
do poder da Criação,
que manda inverno e verão,
pra quem quiser receber,
curtir e reconhecer
o valor da natureza.
O sertão mostra beleza,
quando começa a chover.
Quando Deus fez o sertão,
já fez bonito e bem feito,
naturalmente perfeito,
mesmo havendo sequidão,
essa é uma distinção,
que só Deus soube fazer,
resta o homem conhecer
de Deus a sua grandeza.
O sertão mostra beleza,
quando começa a chover.
O sertão fica bonito,
com o vigor da ramagem,
modificando a paisagem,
porque Deus deixou escrito,
vem um sinal do infinito,
pra o trovão estremecer
com aguaceiro a descer,
na força da correnteza.
O sertão mostra beleza,
quando começa a chover.
O sertão da vaquejada
dos festejos de São João,
da debulha de feijão,
da dança e da farinhada,
da palestra na calçada,
no final do entardecer,
vendo no pátio correr
filhotes de holandesa.
O sertão mostra beleza,
quando começa a chover.
O sertão que me criei,
com liberdade e bonança,
não saem da minha lembrança,
os momentos que passei,
o apito que escutei,
do engenho velho a moer,
vendo a garapa descer,
com abundância e pureza.
O sertão mostra beleza,
quando começa a chover.
Estradas que caminhei,
nas noites enluaradas,
e as águas baldeadas
nas cacimbas que cavei,
açudes que me banhei,
nos momentos de lazer,......
tudo isso eu pude ter,
lá na minha redondeza.
O sertão mostra beleza,
quando começa a chover.