Cabra-cabra... É a cabra
Com presunção racional
Que logo após o Natal,
Doméstica, se finge brava
E escorneia a palavra
Onde acabou d urinar
Como se fosse manjar
Que lhe aparece fresquinho
Ao alcance do focinho
Mas que não tem paladar.
Uma cabra singular,
Macho infuso em feminino
Subordinado ao destino
Do pasto que lhe calhar,
Quiçá morto por saltar
Sobre a cabra verdadeira
Que passou a vida inteira
A dar voz ao coração
E por esforço cabrão
Até consegue falar.
Sobre a arte d insultar,
Caro cabra, minha avó,
Ao limpar-me do cocó
Que me fartei d expulsar,
Ensinou-me a moderar
Dia a dia o excremento
Para poupar alimento
E crescer moço elegante,
Cabra sim, mas adiante
Capaz de arrependimento.
Somos cabras, que contento
Estarmos aqui lado a lado
A tosar no verde prado
Da Usina o alimento
Pra subir o pensamento
E logo a seguir descer
À tristeza dos "sem ver"
O sonho da gesta antanha
Que ergueu sobre a montanha
A esperança de renascer.
Sim, oh cabra, renascer
Ao esplendor de mil sóis,
Somos cabras, somos bois
E seremos sem saber
Aquilo que tem que ser,
Saramagos e Josés,
Nautas de mil galés
Em face do Atlântico
Por onde atravessa o cântico
Do amor em português.
Finemos, cabra, de vez
A escória do focinho
Porque a boca é o cadinho
Da honra de Dona Inês
No amor que deu e fez
Um Dom Pedro justiceiro
No punhal verdadeiro
Que esquartejou assassinos
E permitiu os destinos
Do português brasileiro!