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Cordel-->RETRATO DO MEU SERTÃO -- 20/01/2002 - 12:39 (Marcodiaurélio) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos



RETRATO DO MEU SERTÃO




Se não quiser ler, não leia
não se faça requerido
não sou dono da verdade
nem faço aqui alarido
você faz lá o que sabe
pois todo cachorro late
e sei que tu és sabido.

Essas estórias que conto
de minha cabeça sai
de jeito muito informal
como uma fruta que cai
do terreiro da memória
nunca faço disso gloria
pois as letras não têm pai.

Aqui vou continuar
deixando que a emoção
essa sentida no peito
passe sobre a razão
dizendo que sou um filho
como da espiga o milho
nascido lá no sertão.

Fui nascido em Bodocó
produto de um benfazejo
debaixo daquele céu
criado com carne e queijo
cheio de passarinho
o sertão foi o meu ninho
perde-lo nunca desejo.

Foi meu pai pesquisador
minha mãe era divina
era o sertão todo em flor
mesmo em pedra e terra fina
o ar que respirava
nele me embriagava
a estrela matutina.

Bodocó era vestida
toda em flor de açucena
tanto o dia como a noite
de uma beleza serena
aquele tempo se foi
cantava o carro-de-boi
sua estória de pena.

Cantava o sanhaçu
e o canário da terra
voava o currupião
por cima de sua serra
se o equilíbrio quebrava
era que um filho chamava
em um cabrito que berra.

Na capoeira cheirava
bela flor de muçambê
tão forte como o piqui
coisa boa de comer
o meu sertão encerrava
a jurema da mais brava
espinhosa de se vê.

No angico bem florido
o pequenino tiziu
em lá piava tão fino
que nenhuma flor que viu
podia de lhe negar
ser tão pequeno a voar
quase o menor do Brasil.

Em parceria os anus
acompanhando os vaqueiros
nos galhos de cumaru
na beira de seus terreiros
juntos pastoreavam
o gado que se juntava
em baixo dos juazeiros.

Lembro de um pau-d’arco
de um florido amarelo
uma casa de aripuá
de um feitio singelo
daquele mel que bebi
da tontura que sofri
e da surra de marmelo.

Lembro da jandaíra
do besouro mangangá
na cumeeira da casa
com seu zumbido a zoar
de outro com seu ferrão
era o cavalo-do-cão
se danando de voar.

Naquelas terras tão belas
que o inverno faz brotar
as flores da catingueira
soltam perfumes no ar
não há quem não se deleite
de junto virar enfeite
na beleza do lugar.

Em tudo que lá se vê
quase não se tem limite
a não ser as divisões
das cercas de pau-a-pique
do céu que toca seu chão
do peito em seu gibão
contra os pés de xiquexique.

O mundo que Lampião
rodou tanto com seu bando
como tropa de batalha
contra tudo ia lutando
defendendo todo pobre
da escravidão do nobre
que vivia lhe explorando.

Lembrei-me agora um dia
debaixo de uma imburana
de uma velha senhora
na verdade era cigana
com palavras me dizia
que no futuro se via
o sertão colher banana.

Não carece disso não
há no sertão a beleza
alimentada de sol
no habitante a clareza
de um amor tão vivido
do que lhe foi escolhido
por sua mãe natureza.

Se precisava no mundo
era o saber se olhar
como se vive na terra
se respeitando o lugar
sem querer mudar o rumo
daquilo que já tem prumo
sem o sertão virar mar.

Ninguém vê uma macambira
e nem um pé de juá
em se fazer de rogado
para querer se mudar
deixar o chão do Açu
trocar sertão pelo sul
pras terras do cambará.

Numa coroa-de-frade
toda sua redondeza
seus espinhos trançados
em lhe guardar a leveza
tem uma flor tão bonita
como se fosse uma fita
coroa de realeza.

Sem falar do muçambê
nem da flor da catingueira
o sertanejo teria
o gosto da aroeira
não teria sua vida
e sua paz preferida
em uma alma brejeira.

Quis dizer do meu sertão
sua natureza pura
sua vida sua flora
seu furor sua ternura
a simplicidade sua
céu anil e terra nua
de farinha e rapadura.

Voltarei a escrever
desse meu lindo sertão
do melhor que ele tem
que trago no coração
de tudo que ele merece
como se eu estivesse
no porte de um gavião.

________________________
LITERATURA DE CORDEL
Por Marco di Aurélio
João Pessoa – Paraíba – Brasil
Junho de 2001






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