Na contradição dos versos,
na invalidez das rimas,
no descompasso da métrica,
sou o peso da fumaça,
da medalha, o reverso
a solidez da neblina,
o recheio da carcaça,
a graça que faz chorar.
Se sou uva, sou a passa,
funileiro que amassa,
anjo que ameaça,
fantasma que faz sonhar;
trovador de boca quieta,
lápis das letras incertas,
palavra do riso pouco,
sorriso dos poetas loucos.
Se moça, beijos na boca,
se idosa, boca insossa,
se feia, não sou a primeira
se linda, não moro à míngua.
Se rocha, sou pedra que lasca,
se corte, sou faca sem fio,
se lorde, desvisto a casaca,
se mar, dou ares de rio.