I
Sob pontes, viadutos,
Galpões, árvores, barracos,
Vejo gente, em maus tratos,
Parecendo seres brutos.
São crianças e adultos
Da elite, segregados.
Por malandros são chamados,
Mas nem todos o merecem;
Muitos deles só padecem
Porque foram relegados.
II
Muitos vêm do sertão
À procura de emprego,
Mas na urbe o desemprego
Turvou sua ilusão.
E, com a desilusão,
Cresce a necessidade.
Sem um teto na cidade
E nem pão para comer
Vão tentar sobreviver
Do que sobra à sociedade.
III
Alguns têm profissão,
Mas não, oportunidade:
Não acharam na cidade
O fulgor da ilusão.
Não achando um patrão,
Só lhes resta mendigar,
Ou melhor, se envergonhar,
Pois miséria não anima
Nem produz auto-estima;
O que faz é humilhar.
IV
O governo, por seu lado,
Faz projetos sociais
Com idéias geniais
Pra quem é necessitado,
Mas não dá bom resultado,
Pois as verbas destinadas
São mal administradas:
Poucas chegam ao destino,
Pois a mão de um cretino
Faz as muitas desviadas.
V
A igreja, por demais,
Tem papel beneficente:
Leva ajuda a essa gente
Por ações de pastorais.
Faz campanhas nacionais
Como a da fraternidade;
Leva solidariedade;
Faz com que o excluído
Sinta a vida ter sentido
Dentro da comunidade.
VI
E você? E eu, também?
Nós estamos ajudando
Ou ficamos só olhando
O trabalho de alguém?
Precisamos ir além
Do amém da oração.
Vamos por em nossa mão
Estendida ao miserável
Não só nosso descartável,
Mas, também, o coração.
VII
O fazer a caridade
Não é só partir o pão;
É, também, dar atenção,
E ter solidariedade.
É mostrar fraternidade
Em qualquer situação;
É abrir o coração
Pra quem é necessitado;
É sentir-se ajudado
Na ajuda a um irmão.
VIII
Quando vir, nossa razão,
Que o bem vai mais além
Do que nosso bom “amém”
Ao final da oração.
Quando nosso coração
For também acompanhado
Ao que nós damos de agrado,
Aí, sim, a piedade
Dá lugar à caridade
Que Deus pede em seu recado.