Discutindo eu religião,
Falava com meu compadre:
- O Pastor só quer dinheiro,
Não fica atrás nem o padre,
Mas vou lhe contar um caso
Que eu soube com atraso,
Da boca duma comadre.
Numa ceia um certo frade,
Na capela em plena luz,
Sobre o altar vinho tinto,
O Cálice bento e a cruz,
Mesa de mármore branco...
Pão sem fermento no franco
Pobres famintos seduz.
Corpo e sangue de Jesus,
Pão e vinho ofertado,
Papa Bento consagrando,
Jesus no altar transformado
Em corpo e alma o Cristo,
Por seguidores é visto
Em uma cruz pendurado.
São Francisco ali pelado,
De todos era irmão,
Ante o Papa desafiando
Quis ser pobre ermitão:
Ouro e prata renunciou,
Pela pobreza optou
Desprezou até o tostão.
Ante grande multidão,
No largo do Vaticano
Hoje o papa faz discurso
Quase que cotidiano,
Analisa os problemas
Discorre sobre os dilemas
Do dia, semana e ano.
O ser humano é insano
Quer ser maior e mandão
Ignora o irmão ao lado
Sem saber que o balcão
É a mesa da partilha,
Pra unificar a família
E partilhar vinho e pão.
Eu tomava um pimpão
Uma dose de aguardente
E um sujeito me puxou
Com um olhar sorridente,
Convidando-me radiante,
Levou-me mui confiante
Para uma igreja de crente.
Eu só andei para frente
Na companhia do irmão
Com a minha cara cheia,
Dando até tropeção;
Vendo aquele pão assado
Entre todos partilhado,
Presenciei uma lição.
Chegou um negro irmão
Maltrapilho, esquisito,
Pôs na mesa um pão preto,
Suando sangue disse aflito:
- Eu oferto vinho e pão
Tirado dum sacolão,
Saco de são Benedito.
BENEDITO GENEROSO DA COSTA
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