Minha alma altaneira está serena, contempla o horizonte e aspira o ar úmido da manhã. Viaja no mastro mais alto do veleiro, bem junto ao céu, que, impulsionado por ventos resolutos, bordeja sereno e firme.
Meu destino? Ainda não sei.
Poderia, daqui, avistar a costa da África, de Angola, talvez, de onde se continua escutando o grito de um povo subjugado, agora, por si mesmo. Ou o Velho Mundo, pai de todos os vícios e domínios, que agora eu deploro. Ou as praias de Cuba exalando notas musicais de um povo conformado com a pobreza. Ou as ondas suaves das alegres praias do Brasil, onde o grande Mestre está, nesta hora, fazendo sua caminhada pela praia.
Sei que para lá um dia vou voltar. Hoje não quero, só olho para frente. O mastro é meu berço, seu balanço, meu aconchego. Não quero ter nenhum destino neste imenso oceano que une todas as águas deste Planeta, banhando e penetrando suas terras, através dos rios que, alimentados por nuvens cinzentas, correm sempre para o mesmo lugar; este mar, caminho e fronteira de todas as pátrias.
O passado não me perturba, estou cruzando todas as divisas e deixo tudo para trás.
Adeus, obrigações e posses!
Adeus, alma triste! Hoje minha alma altaneira se sobrepõe às outras, invade-me, domina e, feliz, congratula-se com as gaivotas que seguem o barco e, assim como essas, sente-se livre, voando para todos os lados. Sem nenhuma obrigação, senão a de acompanhar este veleiro que, por sua vez, segue o sentido do vento, que ninguém sabe o motivo, vai nesta direção.
Adeus, ex-amores! Não tenho saudades. Meu único e verdadeiro amor, a única que balançou meu coração, eu perdi e sou culpado. Ana Maria, caminhando ao meu lado na alameda que leva à igreja, o roçar de ombro com ombro, seu sorriso doce, meigo de menina tímida, nem em duzentos anos esquecerei. Perdi, porque não gostava de mim mesmo e, hoje, no alto deste mastro, navegando sem caminhos decididos, minha alma altaneira me diz que estou livre, vou mudar e que, mesmo tarde, vou gostar de mim mesmo, vou me amar.