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Contos-->MÁSCARAS -- 17/10/2000 - 21:46 (Marcelina M. Morschel) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
- A máscara é mais eloqüente do que um rosto. Eu sabia que nesta blusa faltavam dois botões... Sempre atrasada, é a cantilena que ouvirei. Procurar uma agulha é um caos. Deve estar na caixinha que deixei atrás do rádio. Não, aqui não está. Vasculhar as gavetas das bagunças. Ui! Espetei o dedo. Venha cá sua danada, estou com pressa. Linha, entre rápido no buraquinho. Agora não lembro onde guardei os botões.

A linha interminável ia adentrando silenciosa como cobra. A ponta de aço agressiva mostrava-se empertigada. Os ponteiros corriam atrás das horas sem saber por quê. Os redondos botões apareceram algemados à seda e, inertes como seus vizinhos, aguardavam o enlace final. A moça, de cá para lá, no azáfama dos preparativos. Algumas peças de roupa no chão, barulho de água caindo. Do banheiro um suave perfume esparge-se inebriando o quarto. Ela sai sorrindo à flor dos poros. No espelho, a nudez refletida sem tabus. Corpo esbelto, traços delicados. Gotas escorrem do cabelo perfazendo caminhos indiscretos. A pressa, veneno em ebulição, faz com que os objetos caiam, desapareçam. Meias desfiam. Na garagem, o espaço é pequeno para a manobra. Sob um sol escaldante, ao som de uma guerra de buzinas que envelhecem, corre frenética em direção ao estúdio. Ao abrir a porta, os olhos são violentados pela luz que projeta sua sombra disforme na parede. Movimentando-se em câmara lenta, as manequins obedecem à voz de comando:

- Olhar de pantera... Braços largados, busto para frente, empinado; postura; cabeça altiva. Olhe o pé, está tenso. Sorriso, desenvoltura, tirando as roupas lenta e displicentemente. Olhem a sensualidade. Não está ruim mas precisa ser melhor. Você, ofereça o corpo, mentalize o sexo, sinta. Queira aplausos, ouça ovações... as próximas. Rapidez, olhem o relógio, faltam apenas vinte minutos.

As modelos correm de cá para lá, maquilando-se, mudando o penteado, trocando as roupas. Atividade inquietante, nu solicitante. Um pouco de dignidade entremeia-se ao farfalhar da seda. Se elas pudessem decidir sobre a dor e a alegria ou ao menos sobre o tom das cores... É simplesmente o encontro do nada, onde a queda vertiginosa provocada pela inépcia alicia corpos, onde homens, cães famintos, estão à espera das aparências pensando alimentar-se de sabedoria. E as modelos passam uma a uma na displicência elegante, pois aos que têm fama tudo é permitido.

Estendida na cama qual folha de jasmim amanhecida, olha para um ponto fixo. Enquanto ouve o ressonar tranqüilo do homem, máscaras desfilam eloqüentes diante de seu rosto cansado.
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