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Contos-->Sorte -- 06/10/2000 - 05:54 (Samuel Ramos) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Do ônibus pude ver o rabecão preto que descia a avenida. A inscrição em letras garrafais "IML - Novo Hamburgo" me fez refletir um pouco, e entre melancólico e satisfeito, pensei: mais um azarado que deixa o mundo. Como que adivinhando meus pensamentos a menina do banco da frente, em escancarado humor negro, comenta à amiga:

- Azar de quem morreu, ainda bem que não fui eu.

Foi engraçado, ouvir aquilo, pois um sobressalto me tomou: se o azarado deixou o mundo os sortudos somos nós, viventes a pleno pulmão.

Bom mesmo é ter sorte, e estar vivo, longe da morte.

Num ímpeto vi o defundo sentado em cima da parte traseira do rabecão, ele ria e me acenava. Devo estar louco, ou quem sabe com pouca sorte. Esfrego os olhos e ele ainda está lá, sorridente, os dentes manchados de um vermelho escuro, quase preto. Talvez unhas e dentes sejam a única coisa que dele se preserve, se ele tiver sorte. Olho em volta, principalmente para as meninas da frente e nada: somente eu vejo o presunto.

A julgar pelo inchaço, talvez ele tenha se sufocado com o próprio ar, ou com a falta dele. Quem vai saber, talvez o legista em algumas horas. Disso surge outro dilema: o que pensará o cara enquanto corta o vivente sem sorte? Quem sabe ele pense "mais um sortudo", ou até mesmo ele pode pensar "mais um azarado". Se for assim, acho que eu, as meninas do banco da frente e ele entramos num acordo: melhor sorte na próxima, se ele tiver sorte.

Sorte ou azar, não sei. O ônibus tá parando. Cuidado ao descer, tu podes estar sem sorte. Ao que me assopra no ouvido o vivente:

- Com sorte ou sem sorte ficaremos nós dois, iguais na morte.

E olha que o cara nem conhecia o socialismo.

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