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Contos-->O CARRO DE FRANCISCO MORRISON -- 16/09/2003 - 17:18 (Caixa do Pregão) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Pela certeza que tenho, afirmo com a clareza do alvorecer. Nada é em vão. Nada!

Dois sorrisos na noite! Foi tudo o conseguiria arranjar numa noite em que fazia muito frio. Fazendo um longo expresso de carro pelas vastas ruas de Brasília, curtia as risadas expontâneas que dividiam espaço com Jardim Elétrico*. Dirigia pávido diante dos delírios que adquiri em frente do botiquim da rua 47, e o que aconteceu foi tudo por conta de um conflito licérgico* que me alucinou por toda a noite.

Cantarolava a canção do rádio enquanto minha cabeça me defendia de acusações que nem sabia ao certo se tinha cometido. Senti como se estivesse no banco dos réus, onde a acusação era uma consciência quase enlouquecida. Queria saltar para fora de mim, mas minha imaginação delirava como si fosse uma conspiração em séculos passados. Como eu queria, queria muito acordar. Mas que complicado saber que estava dentro de mim mesmo e que nunca imaginava saber o quanto era tão grande. Com os olhos fechados, via-me caminhar para dentro do que era meu, em direção ao meu maior medo. Medo que resplandecia-me os olhos e endurecia a face. Pensei bem longe e sorri! Mas meu corpo ainda sentia a angustia do medo. O mesmo medo que me fazia pequenino dentro de uma caixa de fósforo, medo que me fazia derrotado sem que ao menos tivesse tentado lutar. Mas que medo é esse?! Medo de perder ou de tentar, medo de agir e de falar. Que medo é esse? Porque haveria de temer as reações alheias e a mim mesmo, porquê? Perguntei-me.

Seguia pelo eixo norte, em sentido sul. O silêncio agora era total, não havia mais música. Tentava me distrair observando a chuva, que me conduzia sem destino. O silêncio insistia, involuntário talvez, mas persistia. Era do tipo de silêncio que incomodava.

Dentro do enorme silêncio pude ouvir um canto, parecia querer seduzir aquilo que estava pensando. Era um canto de morte. Daqueles que se ouvem em celebridades funerais. Por alguns instantes me assustei, achei que pudesse ser algum tipo de aviso vindo do inferno para reprimir minhas atitudes para com a sua arte. Seu canto nada dizia, logo pude sentir que minha morte seria prorrogada, então acalmei-me e sorri. Seus olhos eram esplendorosos, encandecia toda a minha ânsia por aquela que poderia ser a minha mulher. Mulher que nada sabia e nada conhecia, apenas os olhos, os mágico olhos que me fascinavam por debaixo daquele capuz. Mas ela não me resolveria. Pois nem me disse que tipo de alívio teria depois que a consumisse, não me disse nada do futuro nem se quer me disse seu nome. Essa coisa inevitável podia pelo menos traduzir a vida de maneira simples e sutil. Ficaria muitíssimo grato.


*Jardim Elétrico - Música dos mutantes (conjunto musical dos anos 60. Tropicália.)
*Lisérgico - Substância química. ( ácido lisérgico)



Silter. Bsb DF 27.11.1999
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