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Contos-->A Falsa História de Adão e Eva -- 18/09/2000 - 04:25 (Marcelino Martins de Moraes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Há muitos anos existiram, por aqui, Adão, Eva e o Resto do Mundo. Adão e Eva eram os únicos seres humanos que existiam até então. Eram os primeiros. O Resto do Mundo era composto por águas, luzes, montanhas, vegetais, outros tipos de animais e, principalmente, ar. Muito ar.

Adão e Eva eram os donos do pedaço, pois eram os únicos que possuíam cérebros altamente complexos e desenvolvidos (mesmo não sabendo usá-los) e mãos com articulações tão emaranhadas que permitiam-lhes movimentos de espantosa precisão, como bater carteiras ou colher maçãs. Só que as carteiras ainda não haviam sido inventadas (nem o dinheiro para recheá-las), mas já existiam maçãs.

Certo dia, passeando alegremente pelo bosque enquanto Adão inventava um novo idioma, lá ia Eva. Ela estava tão linda usando um chapeuzinho vermelho que o Lobo havia lhe dado de presente... O Lobo tinha-lhe explicado para guardar o belíssimo gorro, pois a tatatatatataraneta de Adão precisaria dele, um dia. Mas Eva não sabia o que era uma tatatatatataraneta. Ela não sabia ainda nem mesmo o que eram filhos. A felizarda ainda não havia parido, e não conseguia entender o significado da frase: “Ser mãe é padecer no Paraíso”.

Então, como eu dizia, lá ia Eva pelo bosque. Eva havia aprendido a conversar com os animais. Você sabe como é: mulher adora tagarelar. E não é de hoje. É desde Eva. Como naquela época não tinha muita gente para conversar, só o Adão, às vezes ficava chato e cansativo conversar com ele. Além disso, Adão só gostava de falar sobre a criação do mundo. Para ele era o “assunto do momento”. Eva morria de rir quando Adão falava em ter perdido uma costela por ela. Ela apontava para o meio das pernas dele e perguntava:

- Não é isso que tá pendurado aí, não?

E ria. Nossa, como Eva ria...

Mas ouvir a mesma piada o tempo todo acaba perdendo a graça, não é mesmo? E foi o que aconteceu com Eva. Cansada do papo de Adão (ou devo dizer “do Pomo de Adão”?), especializou-se então na língua dos bichos.

Voltando ao bosque, lá ia Eva conversando com os bichos. Conversa com um besouro daqui, com uma onça dali, com um javali de lá, com um crocodilo de acolá... Eis que, de repente, ela se cansou e parou. Era um dia extremamente ensolarado. Eva olhou para um lado, olhou para o outro e deu um baita grito:

- DONA SERPENTE!!! Que saudades de você. Como é? Já aprendeu a dar nó cego em si mesma??? Brincadeirinha, tá?... Conte-me as novidades. Estou doidinha para saber as últimas do Resto do Mundo.

Dona Serpente, que se encontrava elegantemente enroscada nos galhos de uma enorme macieira, respondeu:

- Menina, nem te conto! Tenho uma novidade fresquinha para você. Mas antes disso, conte-me como vai aquele gatão do Adão. A-DO-RO aquele cara. E se eu tivesse pernas, andaria retinha, só pra me parecer com... hmmm, hmmm... aquela coisa que ele tem...

Enquanto idolatrava Adão, Dona Serpente se contorcia toda, com os pulmões cheios de ar e os músculos enrijecidos pelo fanatismo. O silêncio serviu de canção àquele estranho ritual fálico – uma cobra dura – e Dona Serpente continuou:

- Mas, voltando às fofocas, ouve-se dizer por detrás das cortinas de fumaça do Vale da Neblina que há um fruto, aqui em Paradise City, capaz de fazer com que a realidade seja meramente um invólucro daquilo que ainda não existe. Ouvi rumores de que aquele que comer desse fruto será capaz de criar um mundo tão imenso quanto o Resto do Mundo, porém dentro de um minúsculo espaço. Assim como sua cabecinha, por exemplo...

Nesse momento Eva estava sendo chamada de cérebro de ervilha, Q.I. de abelha. Só que ela estava tão seduzida pela idéia de criar mundos que nem percebeu as entrelinhas da serpente.

- Que fruto é esse? Que fruto é esse?, perguntava Eva, suando de excitação. Até que a serpente finalmente disse:

- É o cogumelo.

Eva nem agradeceu à serpente. Nem mesmo perguntou se ela já havia experimentado da fruta. Tratou logo foi de sair correndo atrás do tal cogumelo.

Pergunta daqui, pergunta dali, foi exatamente o boi, com sua voz rouca, quem deu à Eva a boa notícia:

- Olha, tem um cogumelo no meu cocô, bem atrás daquela bananeira, ali.

E finalmente Eva conseguiu o fruto de seus desejos. Foi correndo para casa, limpou direitinho o troço e disse para Adão:

- Oi, Adão! Tudo bão? Tenho um negócio aqui que vai deixar nós dois muito ligadão.

Adão estava quase terminando de elaborar os caracteres cuneiformes quando, espantado com aquele estranho brilho nos olhos de Eva, viu-se neles refletido. Deixou de lado seus afazeres e, segurando Eva pelos ombros, disse:

- Qual é? Será que a Eva endoidou???

Eva calmamente contou-lhe sobre as propriedades misteriosas do tal fruto, assim como Dona Serpente havia lhe relatado. Disse-lhe também que o Sr. Chimpanzé, após ter experimentado e gostado do estado de torpor causado por aquele fruto que mais parecia uma flor, resolveu parar com suas macaquices e dedicava-se agora a filosofar sobre ditames populares muito comuns naquela época, como “Macaquinhos no sótão” e “Errar é humano”.

- Em uma de suas conclusões, - continuou Eva, - ele deixou bem claro que somos todos primos distantes.

- Macacos me mordam!!! – respondeu Adão, já curioso para saber mais sobre o tal fruto.

Eva havia, obviamente, inventado toda aquela história do chimpanzé com o intuito de seduzir o bobão do Adão a experimentar, com ela, do fruto misterioso. Mas Adão ficou muito bravo e, sem conseguir ocultar o temor que lhe causava aquele “efeito desconhecido”, disse:

- Ave, Eva! Não mexe com isso, não. Você vai é arranjar confusão...

Eva, que de boba tinha muito pouco (mas tinha), insistiu tanto que acabou por conseguir a adesão do Adão. Foram seis longos dias de conversa por entre as cavernas da idiossincrasia. E, durante esse período, emergiram miasmas e esquemas elaborados do pensamento humano, como a chantagem emocional, a guerra fria, a crise existencial e outros apetrechos da humanidade. E, no sétimo dia, quando finalmente entraram em acordo, Eva e Adão resolveram experimentar do cogumelo para descobrir se era realmente “bão”.

Mas, - Oh, destino cruel! – Eva tinha escolhido o fruto errado. Escolhera logo um cogumelo envenenado. O resultado não poderia ter sido outro: ambos morreram rapidamente entre delírios de dor e prazer, ora sorrindo, ora chorando, ora gemendo, ora babando...

Enquanto isso Dona Serpente, que rastejava ali por perto, sorria maliciosamente. E, ao direcionar-se para uma macieira próxima, cantarolava ao ritmo de seu andar esguio e de sua língua sibilante a seguinte canção:

- E o Resto do Mundo viveu sem Chapeuzinho Vermelho e sem pecados, sem a bomba atômica e sem viciados, sem escolas que reproduzem a ignorância e sem os desempregados, sem os papas políticos, cruéis, cretinos e safados. E o Resto do Mundo viveu feliz para sempre. Viva eu! Viva eu! Viva eu!...

FIM
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