De mãos dadas, caminho pela praia com meu amor. Não tenho olhos para apreciar a manhã, a primeira, da estação das flores. Meus sentidos voltam-se todos para a figura alta e esguia - uma ninfa, assim me parece. Usa solto o cabelo louro, liso e bem tratado. Céus, ela toda é bem tratada. Não me canso de admirá-la. É como se a natureza acrescentasse diariamente pequeninos detalhes às suas feições cinzeladas, imperceptíveis para nós humanos, incrementando sua beleza.
Aperto-lhe a mão com força. Ela pára, sorri e me cinge o pescoço com alvos braços. Não sei o que você viu em mim, digo-lhe sempre. Ela ri jogando a cabeça para trás e me confessa sentir-se atraída pelo paradoxo que encerro. O jeito moleque sob máscara de sisudez; a alternância de vigor e doçura nos jogos eróticos.
Gosto de vê-la perder a compostura quando exploro, mãos e dedos, seus pontos nevrálgicos. É bom demais arrancá-la da habitual serenidade alternando malícia e delicadeza ao lhe tocar a mucosa aveludada. Morro ao senti-la esvaindo-se em minha boca, presa a gozos monumentais. Para mim ela é ímpar. Muito frágil não manifesta sensualidade, lembra uma figura etérea em quem transfundo doses maciças de energia sexual. Meu deleite.
Paro para brincar com as ondas mansas, frias, que se desmancham beijando-me os pés. Minha amante se afasta, me aguarda recostada numa pedra. Ao vê-la tão linda esqueço-me da vida, corro e a envolvo em meus braços. Ela se desequilibra e rolamos na areia aos beijos, um cordão de pernas e línguas entrelaçadas.
- Olha mamãe, olha! Têm duas mulheres ali se beijando, diz uma voz infantil.
A jovem mãe nos lança um olhar de desprezo e fala para a criança:
- Não olha não, Fabinho. São duas loucas que fugiram do hospício.
Gisa, rosto vermelho pimentão, nos obriga a levantar. Quer fugir. Eu, cadela sem-vergonha, mando um beijo para o menino e, após remover a areia, passo a mão no que é meu e continuamos a caminhada.
27/05/03
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